Blog do Paullo Di Castro


segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Apreciações de uma viagem apreciadora




Como todo ser humano de carne e osso, precisamos de férias. Esse período tão aguardado do nosso calendário tem esse gostinho especialmente por ser raro, por vir após períodos intensos, dificuldades e adversidades em todas as áreas da vida. O lazer é um direito garantido pela Constituição Federal, e exigido pelo nosso físico e intelecto. Passar longos períodos sem férias, definitivamente não dá!
Um ano atrás estava eu escrevendo com uma tremenda dor-de-cotovelo por não gozar de um período assim, agora, com o alívio de finalmente ter desfrutado, a impressão é que realmente não aguentaria mais passar sem uma interrupção brusca nas atividades do cotidiano, uma ou outra acabamos por nem desligar, mas só de fugir do que nos sufoca, já é uma vitória.
Após poucas experiências litorâneas, eis que surge a oportunidade de cruzar Goiás, Minas e a Bahia em busca da tão cobiçada praia, e seus atrativos oasísticos para quem mora em pleno Centro-Oeste. Quatro amigos, um carro, dinheiro contado, e acima de tudo a vontade de por o pé na estrada.
Após incertezas, contas no papel, planejamentos ousados, chega a tão esperada data. Na retaguarda ficam as famílias, que mereciam da mesma maneira estar conosco, mas não era o tempo. O tempo era de conviver 24 horas com 3 de seus amigos mais chegados, parceiros de banda, de confidências, de reflexões e boas risadas. Até com gente assim pode rolar um stress, mas tudo superável, sem maiores problemas.
O mais encantador de viajar muitos km de carro, por conta própria (que por si só já é uma experiência proveitosa), é se esbaldar com a beleza que a natureza nos reserva, desde as árvores tortas do nosso cerrado, às inúmeras montanhas de Minas Gerais, e grandes vales na Bahia. Contemplar a criação de Deus é estar mais próximo Dele, e sentir uma forte razão para cuidarmos de nossa "casa", e do privilégio de ser inquilino de uma morada com belezas incalculáveis como essa.
Nas praias, parece que nos restauramos com a água salgada, a areia que retarda o nosso passo, dando-nos mais tempo para curtir os cenários privilegiados que a orla brasileira oferece, lá parece que o mundo pára, e o tempo é só seu, e todo aquele mar também.
Hospedamos em Eunápolis, que fica a 60 km de Porto Seguro, um QG para nos deslocarmos às diversas praias da região. A cidade de ótima estrutura, comida boa, e o povo baiano simpático como lhes é peculiar. A ida foi um caso à parte, como pousar na cidade da cachaça (Salinas-MG), antes de seguir ao destino.
Estradas desconhecidas são um perfeito mistério, principalmente em muitos km de terra. Um estoque de água fresca é mais que necessário para combater o intenso calor de um verão tropical.
Passamos antes por Paracatú, bela cidade histórica, onde tem um restaurante da autêntica comida mineira que indico sem restrição: Flor de Alecrim. Outra cidadezinha histórica e interessante é Pedra Azul, ladeada por grandes morros e claro, pedras, no norte mineiro. Passamos próximo ao extremo da pobreza do Vale do Jequitinhonha, mas não o suficiente para ver quadros da miséria desumana de nossos semelhantes.
No litoral, primeiro fomos no acesso mais difícil, e de uma ótima fama de belezas naturais: Praia do Espelho. Considerada uma das mais bonitas do Brasil, talvez pela maré, não chegou a tanto em nossa percepção, mas era o suficiente para um lugar paradisíaco, e de um caminho tão íngrime que deve preservá-lo bem por muito tempo. Ponto fraco: O maior restaurante e bar do local cobrar consumação mínima de 30 reais, melhor era procurar um coqueiro tranquilo para usar uma sombra sem custos.
No mesmo dia fomos para uma cidade mais ao sul: Caraíva, outro caminho dificílimo, mas que nos guardava uma boa surpresa: Uma vilazinha bem charmosa, com muito artesanato e comidas variadas (que não provamos), uma prainha tranquila, e que cruzava com um rio, o que deixava o local bem interessante para se passar horas.
Segundo dia o destino foi Trancoso, as duas praias mais faladas não nos empolgou tanto, principalmente por receber um disparate de que seria cobrado 20 reais por pessoa por uma mesa sem consumação, resultado: não consumimos e muito menos pagamos. Mas era um ótimo lugar, nos divertimos: isso foi o principal.
O terceiro dia foi um dia cultural, um passeio longo por Porto Seguro para aproveitar o que a cidade tinha de bom. Após rodar bastante, ouvir um flanelinha muito grilado por receber 50 centavos ao pararmos por 10 minutos, comemos no ótimo restaurante Portinha, e depois fomos ao roteiro cultural: Epopéia do Descobrimento, onde grandes imagens da origem luso-brasileira, e mais réplica da caravela nos contava um pouco do que aconteceu por lá em 1500. Depois, após parada em um shopping que pouco oferecia, terminamos a tarde nos museus e igrejas das primeiras vilas habitadas pelos imigrantes, muita informação, estrutura, e claro, overdose de história do Brasil. Terminamos a noite na Passarela do Álcool, onde a tapioca típica foi muito bem vinda e as tentações de ofertas para presentes desfalcavam mais nossos bolsos.
O outro dia o roteiro foi Santa Cruz da Cabrália e Coroa Vermelha, os locais de desembarque dos patrícios europeus. Sem muita novidade, praias cheias e desertas, vila indígena e o pique já estava baixo nessa altura do campeonato. Em aventuras mais ao norte, pegamos uma balsa para praias pouco interessantes, pelo menos naquele dia estavam, a de Guaiú foi bacaninha, mas depois de sermos feito bobocas por uma praia com esse nome que na verdade era outra que tínhamos acabado de sair, era melhor voltar caladinho pro QG.
Deixamos a badaladíssima Arraiá d'Ajuda para o último dia. Merecia termos aproveitado mais, um ótimo atendimento no bar e estacionamento, bem frequentado, e a cidade pequena e toda preparada para turistas. Serviços pra mais de metro sendo oferecidos e nós caindo na gastança novamente, querendo ou não estávamos lá para isso!
O regresso foi cansativo, subir para Vitória da Conquista, uma cidade grande, em que achamos um hotel e uma ótima pizzaria a preços populares, ótimo para encarar o resto da viagem: nada mais que 16 horas dentro do uninho guerreiro, almoço rápido, parada em João Pinheiro e depois só em Goiânia, quando a quarta já tinha começado.
Viagem assim nos enriquece a lembrança, as histórias e um descanso, mais psicológico que físico, mas com ingredientes para ser bem aproveitado. Em outra oportunidade, um avião seria bem vindo, mas só de mudar os ares, ter infinitas paisagens para curtir, e locais para conhecer, dá vontade de acordar animado, encher uma mochila e cair na estrada de novo!

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