Blog do Paullo Di Castro


quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Patrimônio x Belo Monte

19 bilhões de investimento, 5 municípios com áreas tomadas, e com a rotina modificada em prol disso. Um dos rios mais importantes do norte do país, agora destinado à obras e geração de energia. Licenças ambientais pra a instalação de toda infra-estrutura para a construção do que será a maior usina hidrelétrica do Brasil, e terceira maior do mundo: A usina de Belo Monte, usando cerca de 100 km do Rio Xingu.


As promessas são de desenvolvimento, geração de energia para uma região de fato carente no setor. Mas isso vai de encontro às necessidades do povo mais renegado em toda a história brasileira. Os verdadeiros nativos brasileiros, a população cada vez mais escassa de índios, habitam grande parte do referido espaço, e se indignaram com o processo. A luta já vem de anos. De engenheiro ferido à várias manifestações, a usina gerou a maior polêmica dos últimos anos em uma obra federal.


O impacto ambiental da região é questionado por índios e especialista ligados à área ambiental, e defendido pelo governo e corpo de empreiteiros e engenheiros. De um lado quem quer a preservação do rio, bioma e dos municípios da região, de outro, o poderio econômico, sonhando alto, e ousando enfrentar tudo e todos para encaminhar a magnanimidade de uma realização de muito concreto e produção.


A liberação para se instalar os primeiros preparativos para a usina parece fechar o ciclo de uma longa batalha travada com segmentos historicamente excluídos na sociedade, e que dificilmente obstruiriam a continuidade de Belo Monte. Não foi por falta de tentar, mas a corda tinha que arrebentar para o lado mais fraco.


Será que o desenvolvimento, o fornecimento de energia para se contemplar milhões de brasileiros vale todo e qualquer sacrifício? Um projeto mais simples, ocupando bem menos do território paraense não seria mais viável? As pequenas iniciativas de subsistência que utilizam a riqueza natural não significam nada? Para crescermos sempre teremos que diminuir?


Parece ser um caminho sem volta, e nossa natureza, já tão defasada, e reagindo em catástrofes naturais contra o homem, ainda não sensibilizou o seu principal inquilido para a responsabilidade com a preservação ambiental. Sendo posição de ambientalista temeroso ou não, resta aguardar para ver a ação e reação de tudo isso.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

5º Goyaz Festival



Acontece desde a quarta-feira a quinta edição de um evento único, de idéia revolucionária, e prestígio merecido à boa música instrumental. O palco, depois de muitos contratempos, foi o Palácio da Música, do Centro Cultural Oscar Niemeyer, apesar de estar disponível parcialmente, já foi uma vitória do segmento cultural contar novamente com esse importante local, independente das trapalhadas e disputas políticas.

Antes feito no Teatro Goiânia, e no período de carnaval, o recuo para o mês de janeiro, e a mudança para o CCON estão sendo bem recebidas pelo público. Na primeira noite, pude acompanhar pela rádio Executiva FM o show do grande trombonista Bocato e banda, Bem animado por voltar aos palcos depois de um período de molho cuidando da saúde, o veterano desfilou um repertório eclético, empolgante, e de alto nível.

Depois dele, veio o percussionista e DJ goiano Múcio Guimarães, acompanhado do grande conterrâneo Fred Valle na bateria, fizeram um emaranhado rítmico inovador, usando várias programações, samplers de músicas de sucesso, e a pegada orgânica das batidas, interessantíssimo de se ouvir, com certeza mais ainda de se ver.

A quinta-feira reservava mais dois espetáculos de grandeza: primeiro subiu ao palco o percussionista baiano Marco Lobo. Com grande trajetória no Brasil e exterior, e acompanhado de uma competente banda, e sendo um show à parte, exalando ritmos pelos mais diversos instrumentos, e passeando por várias vertentes musicais: world music com cara de Brasil.

Depois, um momento histórico sem dúvidas, entrou no palco César Camargo Mariano, um dos pianistas mais conceituados do mundo. Não por ter sido o maior suporte do brilhantismo de Elis Regina, nem por ser progenitor de Maria Rita, Pedro Mariano, dentre outros, mas pela grande contribuição em dar a cara da bossa nova e da música instrumental no Brasil, seja como arranjador, produtor ou instrumentista.

Além de tocar e encantar a todos, contou várias histórias, um pouco de sua trajetória, comentando o formato de piano, baixo e bateria que foi a base do jazz americano, e da nossa bossa nova, além de ser como ele começou, e três anos atrás, decidiu voltar ao formato. Estava acompanhado de seu experiente filho Marcelo Mariano no baixo (que DNA dessa família!), e do jovem Thiago Rabello na bateria (César disse que não houve ensaio com ele antes dessa apresentação, o que não impediu o brilhantismo da performance de Thiago).

O velho Mariano deixou três grandes lições:
1 - A importância de um evento como esse, feitos em moldes populares, acessíveis a todos e importantíssimo para a divulgação da música instrumental, tão abafada pelos grandes veículos;
2 – A humildade em destacar o papel dos vários profissionais que fazem um evento como esse acontecer, desde o faxineiro, o porteiro, o iluminador, quem cuida dos bastidores, da produção. Ressaltando isso, se colocou como mais uma peça que monta um espetáculo como esse;
3 – A música! É claro. Em seu toque ao piano, dando espaço para seus companheiros, e propagando o jazz e a música brasileira com a maestria que mais de 50 anos de carreira podem oferecer a um público privilegiado.
Isso foi só a metade do festival, ainda restam dois dias, muita música boa para o deleite de quem tem a esperteza de aproveitar um momento único como esse. O único ponto negativo vai para alguns inconvenientes expectadores, que ficam de conversa durante as apresentações, em total desrespeito ao artista, e a todo o público. Mas no restante, nada a desejar: organização eficiente, consumação moderada, porém suficiente, som e luz impecáveis, e a música, a melhor possível! 

Programação:


Sexta-feira 21 de Janeiro de 2011
Tanghetto
Paraphernalia

Sábado 22 de Janeiro de 2011
Jaques Morelembaum
Yamandu Costa
Todos os dias a partir das 21 horas no Centro Cultural Oscar Niemeyer (G0-020, Km 0)
Entrada franca


Pescadores de Ilusões?

O estado de Goiás passa por coisas que só se acredita vivendo. Ou será normal uma decisão judicial invalidar um concurso público após ter sido nomeado, empossados e começado o trabalho de diversos profissionais? Se houve erro no edital, qual é a culpa das pessoas que estudaram, se dedicaram, planejaram, e o pior: viram esse sonho se tornar realidade ao assumirem suas funções?

As áreas da Saúde, Cidadania e Trabalho, Polícia Tecnico-Científica e Corpo de Bombeiros fizeram o processo seletivo em 2010, tudo correu normalmente durante os prazos estipulados, exceto que o edital não previa a quantidade de vagas disponíveis, colocando como cadastro reserva. Mas mesmo assim realizou-se o certame, divulgaram os aprovados, e foram chamados, e submetidos a todos os processos de contratação, inclusive tendo começado a trabalhar. Depois, a decisão de se suspender o certame.

Um ítem em comum nessas seleções, é dizer que a aprovação gera a expectativa da nomeação, isso é uma cláusula medíocre, que apenas mobiliza uma força que não pode contar com a sua convocação, e fica-se a insegurança de investir em um concurso para não se ter nem expectativa real de que será empregado.

Tratam-se quase 4.000 profissionais, todos com a vida encaminhada e dedicada para o emprego que conquistaram por direito. Isso faz vários empossados assumirem compromissos financeiros, contando com a estabilidade que o cargo público supostamente oferece a eles.

O trâmite na justiça será longo. A interpretação do delicado assunto pode gerar distorções e embasamentos que não atenderão necessariamente aos trabalhadores, gerando no mínimo o clima de instabilidade para todos. Ninguém provavelmente será destituído do cargo enquanto o processo corre em vários âmbitos, mas o transtorno poderia ser evitado.

Parece ser tempestade em copo d’água, mas não é. A estrutura do estado é muito falha, e precisa de mudanças profundas. O funcionalismo muitas vezes é inoperante, defasado, e desqualificado, justamente por não se priorizar a qualificação encaminhada através de um concurso público. Não é a solução para todos os problemas, mas com certeza uma reforma que melhoraria muito a funcionalidade dos órgãos estaduais.