Blog do Paullo Di Castro


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Qual o sabor da pizza?


O resultado das apurações da CPMI do Cachoeira no Congresso Nacional, como era de se esperar as mais pessimistas previsões, acabou mais uma vez em pizza. Para alguns uma iguaria italiana, aperfeiçoada e melhorada no Brasil. Para a maioria, uma pizza bem amarga, daquelas que amadores e desastrados fazem, com a massa azeda, recheios vencidos, fungos e o que mais tiver direito. Tudo para dar a pior digestão que o povo brasileiro poderia experimentar.

Cada personagem principal teve seu sabor:

Pizza de Calabresa (Marconi Perillo): É a pizza mãe de todas. Sua tradição é a de se perpetuar no poder e se blindar pra sempre continuar no cardápio;

Pizza Quatro Queijos (Carlinhos Cachoeira): Essa fornece ingredientes para todas as outras. Sem seus queijos, poucas teriam a fartura que tem;

Pizza Napolitana (Demóstenes Torres): Mesmo se for unanimidade, se passar do ponto pode decepcionar, e ser a primeira a ser queimada;

Pizza de Mussarela (Fernando Cavendish): Essa é usada para dar fartura na refeição do freguês. Tem a relação mais estreita com a Quatro Queijos;

Pizza Pepperoni (Carlos Leréia): É uma pizza que fica mais no canto do cardápio, mas quando pedida tem muita coisa pra oferecer;

Pizza Marguerita (Wladmir Garcêz): É uma pizza secundária, mas importante para unir o tempero especial de outras. Está sempre ao lado das principais;

Pizza Frango com Catupiry: (Agnelo Queiroz e Sérgio Cabral): Juntos são imbatíveis, tem várias caras, e ficam ao lado de quem manda;

Pizza Moda da casa: Essa representa todos os parlamentares que compactuam com os escândalos apresentados, e com conchavos polítivos e receios da bomba estourar em seus próprios quintais, preferem assar tudo no forno a lenha e deixar o cheiro do orégano (dinheiro) atiçar seus paladares para mais. Dando nome aos bois, ou às pizzas: 

SENADORES: Álvaro Dias (PSDB-PR), Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), Jayme Campos (DEM-MT), Sérgio Petecão (PSD-AC), Sérgio Souza (PMDB-PR), Ciro Nogueira (PP-PI), Ivo Cassol (PP-RO), Antonio Carlos Rodrigues (PR-SP) e Marco Antonio Costa (PSD-TO). 

DEPUTADOS: Carlos Sampaio (PSDB-SP), Domingos Sávio (PSDB-MG), Luiz Pitiman (PMDB-DF), Gladson Cameli (PP-AC), Maurício Quintela Lessa (PR-AL), Sílvio Costa (PTB-PE), Filipe Pereira (PSC-RJ), Armando Virgílio (PSD-GO) e César Halum (PSD-TO).

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Dois pesos e duas medidas

O filme nós já vimos mais que "Lagoa Azul" na Sessão da Tarde: As eleições terminam e os governantes, especialmente reeleitos, preparam surpresinhas não muito agradáveis para os eleitores. O aumento de salário de prefeitos e vereadores são os mais corriqueiros, e também algumas medidas drásticas que apontam um claro compromisso financeiro além do orçamento anual.

Em Aparecida de Goiânia o natal teve presente de grego antecipado para os moradores da cidade. Na velha prática de legislação em causa própria, foi aprovado na Câmara e sancionado pelo prefeito Maguito Vilela (PMDB), um aumento de 65% dos salários do prefeito, além do vice-prefeito, vereadores e secretários.

Maguito vai passar a ganhar R$ 19.800, antes o salário era de R$ 12.000. O vice-prefeito deixará de ter R$8.000 e terá R$ 13.280 mensais em sua conta. Os secretários da prefeitura sairão de R$ 6.200 para R$ 10.540. Os vereadores catapultaram o próprio salário de R$ 7.400 para R$ 12.060.

Enquanto o bolso dos comandantes engordam, a cidade segue com seus profundos problemas de infra-estrutura, segurança, saúde e educação. Isso não é privilégio de Aparecida, claro, inúmeras outras cidades vivenciam a infeliz prática.

Como não bastasse a vizinha sofrer com a caneta das autoridades, Goiânia também passa seus pormenores com a administração pública. Um mico considerável foi a notícia do jornal  O Popular dessa terça, 27, do cancelamento da ornamentação de luzes natalinas pela prefeitura esse ano. 

O motivo seria a contenção de despesas para pagar as contas. Que contas seriam essas? O que poderia ter fugido do orçamento do ano?  E isso logo após uma milionária campanha que reconduziu Paulo Garcia para o comando da prefeitura. 

O prefeito pode até voltar atrás, mas o estrago já tava feito. O período era inoportuno para uma decisão dessa. As luzes são um marco para a cidade. Mesmo com opiniões contrárias, mexer no que é tradicional é muito delicado, principalmente em tempos de tanto descrédito do eleitor com a imagem dos agentes públicos.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

De volta pra casa


Dois anos de intervalo, um hiato doloroso para uma torcida que sofria por desastrosas administrações, jogadores que só comiam e dormiam, imprensa desconfiadíssima... Todo um cenário que só poderia ser revertido com uma nova concepção de administração, um planejamento bem executado e uma gestão harmônica. Aconteceu!

Em 10/11/12, o Serra Dourada recebeu um público histórico. Eram mais de 40.000 vozes gritando para um só time. Todo em verde e branco, a festa da torcida esmeraldina era de dar gosto. Tudo para ver o Goiás, após dois anos voltar à elite do futebol brasileiro. Um time com a torcida, estrutura e história que tem, não podia demorar mais pra competir com os grandes.

A formação do elenco foi cautelosa, a velha tática de pegar bons nomes que não estão tendo oportunidades nos grandes foi mesclada com novos valores de potencial. Tudo isso por um comandante novato, mas vivido no ambiente, discípulo de bons mestres. Era uma aposta, mas contra muitas desconfianças, minha inclusive, se revelou uma boa surpresa em época de técnicos arrogantes e ultrapassados.

A diretoria finalmente falou a mesma língua, com um presidente afiado com o manda-chuva Hailé Pinheiro e conhecedor profundo dos bastidores do futebol. Com essa afinidade, que não aconteceu nos mandatos anteriores, os bichos estimulantes pagos, o trabalho de injeção de ânimo na torcida, a chance de subir era muito maior.

Uma salvação para o ano do futebol goiano, que assiste tragicamente o Vila Nova patinar e se afundar mais na Série C, e o Atlético após uma brilhante temporada ano passado amargar a lanterna na maior parte da competição. Terão muito o que repensar, principalmente articular para ter uma direção coesa, comprometida com o profissionalismo e inovação na gestão, como aconteceu com o Goiás.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Violência



Vivemos dias estarrecedores, em diferentes cidades, estados e países, o que se assemelha aos seus habitantes é uma só sensação: Insegurança. O direito de ir e vir, e de estar em paz em sua residência, trabalho e no seu lazer é substituído pela tensão de se sentir desprotegido, vulnerável e incapaz de ter momentos de absoluta tranquilidade. 

A sensação de ser a próxima vítima de um arrastão, assalto, roubo e diversas formas é uma privação angustiante. Não poder contar com a sua polícia pra te proteger, nem pra fazer um boletim de ocorrência porque a mesma está em greve, que não é a primeira do ano, é a pior sensação que um cidadão em seus direitos cíveis pode passar.

Sair de casa sempre é um risco, os mais improváveis incidentes podem acontecer. Mas você sair e temer automaticamente ser violentado por bandidos que estão agindo e não são coibido pelas autoridades competentes deixa de ser um risco e vira uma real possibilidade, da pior maneira possível. 

Você pensa em você e em quem você ama, como proteger ao outro sem conseguir proteger você mesmo? Tudo isso porque ninguém, ninguém possui proteção devida. Os milhões gastos em publicidade e grandes obras (muitas vezes não concluídas) do governo passam longe de virarem investimento em aparelhamento e valorização dos profissionais da segurança pública.

O que fazer? Esquecer o que a Constituição Brasileira garante e se trancafiar em casa, sair com nenhuma moeda no bolso, nenhuma roupa de marca, e de preferência sem o celular?  Gastar o que não se tem pra deixar a residência uma fortaleza, a empresa um quartel e renegar toda saída de lazer em vias públicas? É muito difícil viver assim! Prisioneiros de nós mesmos.

Enquanto a Polícia não ajuda, o governo cruza os braços, as manchetes de violência não param, podem ser as únicas opções. Teremos que ter toque de recolher? Os estabelecimentos de diversão noturna terão hora pra fechar, prejuízos incalculáveis? E quando a coisa é feira à luz do dia? Quem marca hora pra violência nos encontrar? São muitas perguntas, e as respostas um mistério.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

O acordão pra amarrar o Brasil


Dois poderes, duas frentes, dois lados da mesma moeda, e como é impossível a moeda cair em pé no jogo da justiça, nada melhor que sair do jogo, fica bom pra você e não deixa tão mal pra mim. É esse o sentimento que antecipa o fatídico encerramento das investigações tanto da CPMI do  Congresso Nacional, como da CPI da Assembléia Legislativa de Goiás.

Ambas tinham como alvo todo o esquema de desvio de dinheiro encabeçado por Carlinhos Cachoeira. Mas o alvo acertaria bem mais que o contraventor, envolveria personagens dos dois lados mais representativos da política nacional. Tanto situação como oposição do governo federal teriam a carne cortada, e pra evitar "constrangimentos", nada melhor que um acordo bom pros interessados.

O fatídico fim era anunciado: Quando se levantou a investigação dos nome dos governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), o de Brasília Agnelo Queiroz (PT) e do Rio Sérgio Cabral (PMDB), sabia-se que algo não fecharia, tanto que Cabral foi dispensado do depoimento. A primeira saída que encontraram era deixar a batata assar só na mão do senador Demóstenes, cujo partido Democratas não hesitaria de cortar fora.

Carlinhos era um hábil articulador, e naturalmente não iria fazer acordos só com um lado político. A base do governo estremeceu diante da possibilidade de caírem alguns de seus figurões. A única forma de salvar seus vários nomes envolvidos seria propor encerrarem os trabalhos de investigação, mesmo que isso custe perder a melhor oportunidade de enfraquecer a oposição. Na ALEGO, o caso era mais evidente, com o governador nadando de braçada em maioria na casa, facilmente seria neutralizado por sua base.

Por hora Cachoeira vai continuar sendo o único preso (mesmo que o juiz Tourinho Neto tente o contrário), e os parlamentares serão poupados. A vasta documentação que falta para analisar será ignorada. O julgamento do mensalão já será muito desgastante, pra quê insistir em cavar mais podridão nesse buraco? Que o STF e sua bancada lulista resolva lá na frente, se preciso.

Uma política retrógrada, de legislação em causa própria e alimentada pelas verdinhas do cachoeirolduto. Esse é o sentimento que nos deixam as casas legislativas federal e estadual. Perdemos uma grande oportunidade de exposição de saber quem é quem dos amigos de Cachoeira. O impacto nas eleições desse ano já foi pequeno, e o cuidado pra 2014 é estratégico para a sobrevivência política da maioria.




sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O que esperar?


O que você espera da próxima administração pública de da sua cidade?  Tá desiludido com tantos escândalos de corrupção, e fica tentado a generalizar toda a classe política de fazer parte desse lamaçal? Infelizmente esse quadro é o que mais tenho visto hoje. Mesmo tendo meu voto definido e com absoluta tranquilidade para tentar eleger o que considero melhor pra Goiânia, eu entendo pessoas que pensam assim.

Eu entendo partindo da premissa que a pessoa conhece cada candidato ao executivo, pesquisou sua vida, seu grupo político e tem convição do voto para um deles ou nenhum, crendo que fez parte de verdade nesse processo. No voto parlamentar, uma representatividade de classe, região ou outros segmentos é importante, e mais ainda a renovação de homens comprometidos com a Casa de Leis que regem nossas vidas.

O voto nulo e o branco são opções legítimas, porém, é uma lavagem de mãos perigosa, que vai dar condições a alguém governar sem a participação de quem optar por esse caminho. Não vejo como uma escolha que ajudará a sociedade, ao menos enquanto vemos os mesmo políticos continuando no poder, caciques centralizadores e herdeiros sempre recebendo a bênção de quem já está no lá há muito tempo.

O voto ainda é o instrumento pra começar a mudar esse quadro, se não está satisfeito com o que está lá, nem com quem não te representa, simplesmente mude! Não vote em quem te decepcionou, nem em quem está ligado a pessoas que não corresponderam a sua expectativa. Uma gestão pública precisa estar livre de apadrinhamentos políticos, compromissos com grandes grupos financeiros, só assim ela poderá operar em favor do cidadão.

Pesquisas eleitorais mostram comportamentos, tendências e são o retrato de um momento do cenário político. Mas não são elas que devem pautar o seu voto! Você deve pautar baseado nos seus conceitos e valores, e em escolher quem você vê competência, currículo, companhias e passado ilibado para assumir tamanha responsabilidade.

Decepções nós temos sim, afinal nossos representantes são homens falhos como nós. Mas o aprofundamento no campo eleitoral para discernir nossa escolha pra mim sempre vai ser um dever do cidadão. Não tenha medo, não pense em votar no “menos pior”, vote em quem você visualiza daqueles que entraram na disputa, governando o lugar que você mora. 

A participação no mandato deve continuar, cobrando através de e-mails, pelas redes sociais, e manifestações que legitimem a indignação do povo, como foi a Lei da Ficha Limpa. Vote em alguém ficha limpa, e que de preferência não tenha nenhuma outra suja por perto. Isso não é impossível, acredite!

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Pouca renovação.

Estou envolvido nas eleições municipais de Goiânia, e não acho ético comentar nada sobre as mesmas. Mas para não ficar com os dedos coçando, tenho observado de longe algumas capitais do Brasil que tem campanhas bem interessantes. Algumas com uma movimentação que sinto faltar aqui, mas sem mais por aqui, vamos falar das de lá.

O Rio de Janeiro é o que mais tem me chamado a atenção. O caminho tá livre pro prefeito Eduardo Paes faturar a reeleição, mas existe um fator surpresa interessante. Subindo impressionantemente está o candidato do PSOL Marcelo Aleixo, com o vice Marcelo Yuka, ex-O Rappa. A chapa pura dos socialistas nunca incomodou tanto. Os xarás representam um discurso social contundente, que vai de encontro à realidade dos cariocas. Mesmo que não tenham fôlego pra alcançar o prefeito, a ousadia e frutos dela poderão abrir bons caminhos para eles e a legenda. A dupla inusitada Rodrigo Maia (DEM) e Clarissa Garotinho não alcançarão agora o posto já conquistado e desgastado de seus pais.

São Paulo também tem novidades interessantes. Quando a polarização entre José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT) parecia certa, surge Celso Russomano (PRB) e desponta pra liderança. Pólvora pura nos ninhos tucanos e petistas. O desespero bate, para o antipático Serra, com a imagem arranhada de tantos pleitos eleitorais pro executivo disputados (e maioria perdidos), e também com Haddad, nova aposta que Lula tenta carregar nas costas, mesmo com um programa eleitoral com recursos de primeiro mundo dificilmente mudará isso. Gabriel Chalita (PMDB) e Soninha Francine (PPS) tinham potencial, mas sem alianças fortes, são cartas foras, vão negociar como é tradicional com os cabeças.

Em Porto Alegre a simpática e aguerrida Manuela D'Ávila (PCdoB) sofre pra quebrar a tradição eleitoral gaúcha, sempre polarizada, mesmo ela entrando nessa polarização, tirar a reeleição de José Fortunati (PDT), carregado pelo espólio de Leonel Brizola, é um grande desafio. Manuela tem bom diálogo com segmentos da juventude, esportes e cultura. Mas isso pra competir com a máquina do governo torna a tarefa ingrata, mas acredito que ela tem potencial pra virar o jogo. Aliar-se com o PSD demonstra a determinação dessa campanha.

Outras capitais não me chamaram tanto a atenção, em Belo Horizonte os petistas deixaram a estranha aliança com os tucanos, e não devem tirar a reeleição de Márcio Lacerda (PSB), continuando a hegemonia tucana mineira. Em Salvador o Neto de um dos maiores coronéis do Brasil tem tudo pra continuar a dinastia levar as três siglas que mandaram tantos anos por lá. Desejo ao menos que São Luís do Maranhão e Maceió-AL respirem longe disso. Mas não é fácil não. Ao menos, é bom ver quadros buscando renovação nas cidades, mesmo que o eleitor não se conscientize e prefira dar seu voto ao continuísmo, ou mesmo se excluir do processo anulando o voto, mas esse assunto fica pra outro post.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Cotas e chacotas


A polêmica continua. O sistema de cotas ganha novas proporções e consequentemente, aumenta os pontos divergentes. O novo projeto aprovado pelo Congresso Nacional distribui em 50% as vagas do ensino público superior para alunos de baixa renda, oriundos de escolas públicas, assim como para negros, indígenas e pardos.

Dois artigos publicados nessa terça no jornal O Popular trás duas opiniões contrárias de ótimas abordagens, do jornalista Rodrigo Alves e do empresário Melchior Luiz Duarte. Esse é o ponto mais interessante, de se ouvir as diferentes percepções de um debate tão importante, que dita os rumos da nossa sociedade, como formação da cidadania. O assunto é quase infinito, mas sua urgência é imprescindível.

No Brasil com suas peculiaridades e históricos sociais conturbados, a preocupação com a equiparação do ensino provoca medidas ousadas, injustificáveis em um país sem tamanha desigualdade social. O atraso no tratamento para com as classes sociais e de grupos minoritários leva a opções de remediar, longe de conseguir prevenir. Se um dia se conseguirá chegar a um patamar que não precise de tais medidas, é uma grande interrogação.

Analisando friamente, penso que não. Temos apenas um remédio que arrolará as oportunidades para um maior alcance dos segmentos sociais, porém, não dará as condições que o alicerce da educação não sustenta. O câncer do ensino básico provoca o efeito cascata da falta de estrutura, que resulta na falta de retorno do aluno, sem esperança para crianças trilharem seu caminho.

Acompanhando ocasionalmente algumas escolas públicas de Goiânia, vejo uma grande massa do corpo discente desinteressada e imersa em seus problemas familiares e sociais, arrastando-se nos estudos acompanhada por professores desmotivados, com alto nível de stress. Medidas de acompanhamento dessas mentes fecundas são tímidas, transferindo para quem mais precisa de orientação resolver a maioria de suas próprias dificuldades.

O programa CQC na última segunda mostrou a situação de algumas escolas no estado do Piauí. Colégios de uma única sala, em triste abandono, usado para várias faixas etárias, com uma professora que também atua como diretora, coordenadora, faxineira, e usa do seu salário pra tentar amenizar a precariedade do lugar. Refeições de água de balde colhida em poço, sem luz e seneamento, uniformes pagos pelos pais. Essa é uma mostra grátis do que tem sido oferecido, e empurrar alunos assim para uma faculdade não lhes dá a mínima condição de uma educação sólida.

Dinheiro para isso não falta. Quanto a ele chegar a esse destino, não é o que temos visto. A negligência com o ensino só aumenta o preço que todos pagam por não se estruturar a formação do cidadão. A dignidade na formação acadêmica depende muito do esforço do estudante, porém, as condições a ele oferecidas, não ajudam em nada no respaldo que ele trará. Exemplos de superação são vistos constantemente em nossa volta, mas para arrancar a esperança de um ser humano em formação, basta tirar o que lhe é mais fundamental.  

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Balanço Olímpico




Não foram os Jogos Olímpicos que os brasileiros esperavam muito menos os atletas, patrocinadores e boa parte da crítica especializada. Um saldo de medalhas muito aquém da grandeza de nosso país, da nossa economia e recursos humanos. Algumas lições marcaram essa competição:

1)   Nunca superestime alguns atletas, e nem subestime outros. Todos chegaram lá por méritos e supostamente tem chances de conquistar lugares altos. As duas medalhas de ouro individuais vieram de atletas “desconhecidos”, que eram sombra de nomes fortes que estão acostumados a bajulações. É obrigação da imprensa que cobre os jogos saber do histórico de todos os atletas, e não ter o carão de confessar que não conhece esse ilustre novo campeão que surpreendeu a todos com o ouro.

2)   A briga de Globo x Record empobreceu o espetáculo no Brasil, pela primeira vez não sendo a emissora oficial, o plim-plim tratou com desdém a competição, chegando ao ponto de no início não pegar imagens da concorrente, preferindo pagar mais caro pelas de fora. Por sua vez a Record apanhou no ineditismo da transmissão, com âncoras mal preparados como até a experiente Ana Paula Padrão, e destinando pouquíssimas análises pós-jogos, deixando a noite carente de informações, mesmo com o horário britânico não batendo, era importante destinar mais o horário nobre e fim de noite para a atualização do dia dos jogos.

3)   A Seleção Brasileira de futebol masculino NÃO É IMBATÍVEL. A ausência da Argentina não ia mudar isso. Mano Menezes está capengando a um bom tempo, após essa primeira prioridade fracassada, deve sobreviver até a Copa das Confederações, última tentativa de consertar algo pro Mundial no Brasil. A figura de Neymar nunca brilhará nos momentos decisivos se o moleque não tomar um chá de realidade e os flashs sobre ele não diminuírem. Na feminina, infelizmente não vivemos só de Martas, o esporte não crescerá; a vitrine midiática, e a própria cultura do país é totalmente tomada pelos homens. 

4)   Que nosso vôlei é um dos melhores do mundo é notório. Foram os que mais brilharam mesmo o ouro só vindo com as meninas da quadra. As duplas da areia brigaram de igual pra igual, e merecem terem suporte maior. A renovação das seleções está sendo sofrida, e só teremos outras gerações vitoriosas se as autoridades acordarem e der o apoio que o esporte tanto precisa, investindo na formação de atletas. Se dependermos de lugares como Goiânia, que tem um buracão de terra no lugar do que seria um Centro de Excelência, a tendência é só cair.

5)   Nosso atletismo sofre com a pouca exposição e investimento. Os fracassos dos maiores nomes mostram a carência de revelações, de quem chegue com a mesma qualidade para disputar medalhas. Alguns tipos que poucos conhecem podem trazer bons frutos, bastam incentivos, políticas públicas pra dar acesso a uma preparação para crianças de baixa renda. É tão pouco perto da mudança de vida que famílias podem passar com isso.

6)   Os esportes aquáticos tem um leque maravilhoso de modalidades, sujeitos a grandes conquistas. Mas a realidade é dura, atletas que querem melhor preparo vão treinar fora, muitas vezes com recursos próprios, e perdem a própria identidade com o país, falando besteira de vez em quando. Quem muito ganha no Pan, não reflete o mesmo sucesso nas Olimpíadas, ali o nível é completamente diferente. E não é com a fraca estrutura que o país fornece que isso irá mudar.

7)   As lutas são outras meninas dos olhos, mesmo sem tantas conquistas, sempre se espera uma surpresa dos lutadores, tem gente que ligou a ascensão do MMA pra se ter maiores vitórias agora. Não tem nada a ver, a prática de cada um demanda tempo, muita dedicação, e uma exposição maior, o que vemos nos duelos do UFC é uma jogada midiática de quem conseguiu vender bem esse peixe. Já o das competições segmentadas, o adversário da falta de apoio é o maior de todos.

8)   O basquete olha com saudade para tempos distantes, em que outras gerações brilhavam e a um bom tempo não se repetem. As brigas internas de dirigentes, e os novos quadros de organização ainda estão longe de produzir um bom resultado. Achar que os poucos que jogam na NBA salvam o time, tendo um abismo na preparação de lá com a realidade daqui, é acreditar em conto de fadas.

9)   Esportes pouquíssimos conhecidos podem ser celeiros de grandes conquistas, basta pra isso sair do amadorismo. Não é pouca coisa, mas perfeitamente possível. Ficar dependendo de classes A e B, consequentemente de “paitrocinadores” não formará mais campeões.

10)   O Brasil será sede dos dois próximos eventos esportivos de maiores expressões. Megas estruturas estão sendo construídas. O uso posterior delas é imprescindível para a formação de novos atletas, fomentação das competições regionais e nacionais. Cada país sede dos últimos torneios conseguiu façanhas em seu planejamento e execução, aqui em muito já passamos a conta de gastos, licitações e financiamentos. Arenas multi-uso poderiam agregar muito para a economia além do esporte. Os resultados disso, bons ou não, marcarão o futuro do país.

A verdade é que pra 2016 o cenário está perturbador. Não bastassem os problemas da organização, superfaturamentos e riscos estruturais do Rio de Janeiro, que acumula a responsabilidade imensa do Mundial de Futebol daqui dois anos, nossos competidores estarão lutando contra adversários maiores que seus concorrentes. O principal é a inércia de quem mais pode incentivá-los a seguir com segurança essa carreira.

Não só o governo, mas a imprensa, os dirigentes e a iniciativa privada, assim como a sociedade em geral pode dar o prestígio que esses guerreiros precisam, e que levam o nome do Brasil pra fora, nos dando poucos momentos de alegria. Lembrar-se de nossos atletas dos esportes especializados apenas de 4 em 4 anos não mudará o quadro que vemos hoje. 


terça-feira, 31 de julho de 2012

A futilidade da "musa"



A mulher cada vez mais ganha  ascensão, conquista lugares maiores no mercado de trabalho, mas existem motivações que mais parecem retrocesso para a figura feminina. Uma grife que permanece incansável e virou uma praga, é a de "musa" de algum segmento. Colocar mulher bonita associada a algum produto é tática certa do mercado publicitário, e sim, vende! Mas o culto ao corpo não precisava alcançar qualquer instância social e profissional, o que dirá na política!

As musas inspiradoras de poetas, músicos, artistas plásticos sempre existem, mas apenas figuravam como dedicatórias para obras de cunho artístico. Belíssimas canções tiveram suas origens graças a formosura e charme de várias mulheres. Até aí tudo certo, bela contribuição dessas donzelas para seus inspirados artistas. Mas quando se extrapola lugares que exigem seriedade e foco completamente diferentes, a coisa muda de figura.


O termo musa virou uma banalização de promoção de atributos físicos, usando como pano de fundo de um segmento que não tenha nada a ver com a figura de uma mulher. Na campanha ao governo de Goiás em 2010, a coligação vencedora fez uso de sua musa, e viu depois que quase foi um tiro no pé. Garota 45 com certeza foi uma das coisas mais ridículas que já tinha visto na política. Isso antes de saber quem era, e do que é capaz de fazer a senhora Andressa "Cachoeira" Mendonça. Ganhar a alcunha de "musa da CPI", foi só o começo.


É tarefa dispensável julgar a trajetória da moça. O fato de ser ex-mulher do senador Wilder Morais, que assumiu a vaga do deposto Demóstenes Torres, mostra ramificações conturbadas dela com o mundo político. O mundo de glamour e luxo mostrado em gravações da Polícia Federal, e de presença vip na alta sociedade goiana, já falam por sim só sobre a senhora Cachoeira, que nem esposa é, fato atrapalhado pela prisão do bicheiro, mas que não desqualifica a união estável e de negócios que os dois tinham.

A beleza vira justificativa da incansável exposição de Andressa na mídia. Além dos atributos físicos, elegância, ela produz fatos novos, mesmo os banais, entram no lugar do que se espera de concreto nas investigações em torno de Carlinhos Cachoeira. As juras de amor trocada pelos dois tomaram o lugar daquilo que mais interessava: A versão de Carlinhos Cachoeira sobre os fatos. Quanto mais protagonista se torna, mais existe pauta para falar de Andressa.


Uma hora ela será esquecida, mas enquanto isso, o "amor bandido" continua tomando conta do noticiário que poderia aparentemente estar em editorias de entretenimento, mas em vez disso ocupa manchetes principais e toma conta de cadernos de Cidades, Política e Justiça. Como arquivos vivos sobre os maiores rombos ao dinheiro público revelados nos últimos anos, o casal permanecerá por um tempo ainda na grande mídia. Não tem eleições, nem mensalão, nem Olimpíadas que tomem espaço deles. Aguentemos!

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Triste fim, sombrio recomeço.

Um dia triste, sem precedentes para todo o estado de Goiás, não bastassem os últimos crimes na capital, como o estarrecedor assassinato do radialista Valério Luiz, a segurança pública em caos, greves, e instabilidade em várias áreas, ainda vivenciamos o nosso primeiro senador perder o mandato, o segundo na história do Brasil. Ele, que era o próprio senhor-Justiça.


O que tirou Demóstenes Torres do Congresso não foram os 56 votos pró-cassação, mesmo em votação fechada, seus colegas agiram com a cabeça lá fora, por fora das paredes daquela casa estavam todos os brasileiros perplexos, indignados e pedindo a cabeça do agora ex-senador. O episódio foi instrumento de um jogo político do governo contra a oposição? Sem dúvida sim, mas maior que as canetadas do Executivo é a massificação da rejeição pública.


Como homem com formação brilhante em Ciências Jurídicas e extensa carreira em ascensão, Demóstenes usou dos últimos minutos que contava na tribuna pra discorrer sua inocência baseado em princípios norteadores que não são uma prática plausível para a sua situação. Comparar seu caso com Jesus, Pilatos e Judas foi um desfecho lamentável pra quem um dia já usou seu mandato para o cumprimento da Justiça. Nem com o advogado mais bem sucedido, que livrou a cara de tantos, a sua pele seria salva.


A vida política de Demóstenes foi para o ralo, mas as implicações desse caso são extensas e preocupantes. Ele vai lutar por sua inocência até o Supremo Tribunal Federal. Colocar-se como bode expiatório do caso Cachoeira era natural, mas lutar por seu mandato com o sério risco de perdê-lo, junto aos direitos políticos por 15 anos, foi uma ousadia e tanto. Muito diferente de outros como Renan Calheiros que já renunciaram pra escapar da cassação, e no mandato seguinte se elegeu como se nada tivesse acontecido.


Aquele antigo procurador do estado, conhecido pelo empenho de estourar o cativeiro de Wellington Camargo, que era o Presidente da Comissão de Constituição e Justiça, relator da CPI dos Bingos, e agora, que ironia, aparece em escutas da Polícia Federal acertando com Carlinhos Cachoeira favores pra unir debaixo dos panos a máquina pública e privada. É uma mudança e tanto de comportamento, perspectivas, prioridades e duelo verdade x mentira.


A vaga deixada é outra polêmica, o suplente imediato Wilder Morais tem muita coisa pra explicar. É no mínimo curioso traçar o perfil dele como um dos homens mais ricos do estado, com patrimônio e declarações de imposto colocadas em dúvida. Não o bastante, é ex-marido da companheira de Cachoeira, Andressa, e secretário de Infraestrutura do governo Marconi. O currículo e consequentemente ligações com outros investigados não ajuda, assumir sem ser eleito precisa urgentemente ser repensado, do contrário teremos financiadores como ele e Cyro Miranda, herdeiro de Marconi, assumindo as vagas a quem o povo não os destinou.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Efervescência Cultural em Goiás


O fim de semana passado foi muito peculiar em vários aspectos para a cultura, artes, comunicação e empreendedorismo em Goiás. Vários eventos em diversos locais aconteceram pra encerrar o semestre com chave de ouro. São tantos que até dá pesar de não participar de alguns, mas isso é ótimo pro nosso estado. Foi-se o tempo em que as boas opções eram espaças no calendário. Hoje a agenda é extensa, recheada de oportunidades para todos os gostos. 


Pra começar a destacar algum, nada melhor que falar do FICA, a edição desse ano foi bastante movimentada, um belo trabalho da SeCult. Trazer um ícone como Caetano Veloso, que pouco pisa em solo goiano é um ápice, mas deve-se valorizar mais ainda iniciativas de participação de alunos de escolas públicas, o número de oficinas e seminários temáticos que engrandecem muito o evento. Estima-se que 140 mil pessoas compareceram nessa edição, o que mostra o prestígio e crescimento do Festival. Destaco também a presença da Orquestra Imperial, foi outra grande sacada. É um coletivo de músicos excepcionais, a maioria do Rio, caberia um post só pra falar deles. A Mostra da ABD deu o lugar merecido às produções goianas, que não precisam de cota na mostra competitiva pra mostrar seu valor. 


Outro evento bem bacana, voltado para a área de comunicação, foi o II Intermídias, excelente iniciativa da Contato Comunicação. O investimento nessa edição foi grande, trazendo personalidades de muita influência fora, e o mais importante; valorizando diversos profissionais e atuantes nas mídias sociais de Goiás. Os debates e temas foram enriquecedores, o mercado de mídias digitais que tanto cresce e tanto precisa de esclarecimentos, pede por eventos assim. O Intermídias poderia ser prorrogar mais, dois dias e dois períodos já ficou pequeno pra abrangência dos assuntos tratados.


A Feira do Empreendedor já é uma tradição de Goiás. O Sebrae faz um excelente trabalho, em especial para os micro e pequenos empresários, que recebem cursos, consultorias e um bom suporte pra começar e engrenar o seu próprio negócio. A feira trás novidades dos mercados, idéias inovadoras e vira também uma ótima opção para o público em geral, além de incentivar nossos empreendedores a colocarem sua força de trabalho priorizando o benefício próprio e consequentemente da comunidade. 


Pra encerrar, nada melhor que falar do evento que faço parte, um festival cultural que anda na contramão da grande mídia, que valoriza artistas que não precisam pagar jabá, ter mega produções por trás para ter o espaço. O Prosa & Canto Festival fez a sua quinta edição, mantendo essa proposta ousada. Não é um festival gospel, justamente por fugir dessa lógica de mercado, e abrir espaço para a música brasileira, de conteúdo em letras, que preza os ritmos regionais e a atitude dos tradicionais. O ponto de encontro que atende tão bem o eixo Goiânia-Anápolis-Brasilia, assim como vários outros, vira uma grande confraternização, regada pela boa música, boa comida típica, um frio que pede por mais aconchego ainda. A cada ano se cresce mais, a luta por realizar e ver o resultado disso continua sendo um incentivo para a Lam-C e Áudio House System fazerem um festival maior, acreditando ser possível trabalhar uma cosmovisão cristã em harmonia com a música de qualidade independente de rótulos.


Goiás luta ainda com indiferença do centro econômico de Rio e São Paulo, mas cada vez mais usa de sua posição geográfica privilegiada para fomentar diversos eventos que promovam as artes, trabalhos e ofertas de ótimos momentos para diferentes públicos. Existem a pulverização da massa que realizam coisas como o Villa Mix, que aproveitam a explosão do sertanejo pra fazer uma festa com o que de pior o cidadão pode ir pra fazer. Deixando de legado um lixo imenso, muitos bêbados saindo pra dirigir e a certeza que Goiás não se resume a isso, é muito mais. Basta prestigiar os eventos primeiros aqui descritos, e saber que quem quer curtir e se entreter de maneira mais edificante, tem sempre bons e agradáveis lugares para ir.  


Foto de Simone Lago: www.simonelago.com

quarta-feira, 27 de junho de 2012

O ex-amigo



O depoimento mais aguardado pela CPMI que investiga os negócios de Carlinhos Cachoeira, surpreendentemente não era de nenhum político, até porque a maioria optou pelo mesquinho direito de ficar calado. Foi nas palavras do jornalista Luiz Carlos Bordoni que brotaram as melhores explicações e materiais  para investigação. Com a oratória serena, confiante e confrontando partidários de Marconi Perillo, Bordoni não se intimidou e fez declarações interessantes.


A maior acusação foi afirmar que o governador Marconi Perillo mentiu em seu depoimento, nessa mesma CPMI dias atrás. O jornalista bateu de frente em relação aos pagamentos de seus serviços de rádio na campanha de 2010. Os valores e formas de pagamento entram em conflito, também no envolvimento de sua filha, Bruna, além das nomeações dela para o gabinete do senador Demóstenes Torres. Esse são ingredientes que apimentam o embate das duas partes.


Alguns acertos financeiros na campanha sem nota deixam de atestar com mais precisão as afirmações de Bordoni. Negociar diretamente com o governador, pegar dinheiro vivo são outros meios que levam desconfiança. Mas isso não descredita o que foi falado pelo jornalista na CPMI, pelo contrário, só aumentam as fontes de investigação, que competem aos parlamentares dessa Comissão buscarem e usarem suas prerrogativas para trazer a tona, informar a população e aplicar as medidas cabíveis.


O palco de guerra com ânimos exaltados de parlamentares continuam a acontecer e envergonhar todos os brasileiros. Nomes chulos sendo brandado aos gritos mesmo com microfones desligados. A acusação de caixa 2, só reflete a formação do mesmo, e execução feita pelo comando de campanha do então candidato Marconi Perillo, a apuração de provas documentais, novos adentos que prorrogam mais os trabalhos da Casa, e aumentam a resposabilidade da CPMI ter sua eficácia investigação.


O mais interessante tirando a gravidade das denúncias, é o histórico de relações de Bordoni com Marconi, tendo o conhecido ainda menino e trabalhando com o pai, passando pelo PMDB jovem nos anos 80, e fortalecendo a amizade trabalhando nas campanhas políticas desde a histórica primeira vitória sobre Íris Rezende em 1998. De lá pra cá, nas 3 campanhas vitoriosas para o governo e uma para o senado. Em todas o programa de rádio da campanha era comandado por Bordoni. Após ver o nome da sua filha citado por Demóstenes em depoimento na mesma Comissão, e ser investigado para tal, a caixa de marimbondos estava provocada, e a picada é certa. Resta se ver os feridos em breve. 

quinta-feira, 21 de junho de 2012

A Partida do Partido

A sensação de "já vi esse filme", "eu falei que ia dar errado" "desse mato não sai coelho", foram alguns sentimentos de políticos, eleitores e a imprensa com a notícia que movimentou a cena política goiana nessa quarta-feira, dia 20. Vanderlan Cardoso declarou que estava saindo do PMDB, poucos dias depois de completar 1 ano na sigla.


A notícia não era de se espantar, mas deu muito pano pra manga. Depois da grande festa pra receber o novo afiliado no ano passado, no Centro de Convenções, se transformou em uma caminhada pelo estado que não teve o apoio da cúpula peemedebista. Por cúpula leia-se Íris Rezende Machado. O veterano líder, mesmo com derrotas significativas, não consegue renovar o quadro e permitir a ascensão de novas lideranças significativas.


Desde Maguito Vilela, que nos últimos 4 anos passou por um ostracismo pegando a batata quente da prefeitura de Aparecida de Goiânia, não existe mais nenhum nome que ocupe a cabeça de chapa do PMDB em Goiânia e no estado. Íris disputou todas as últimas 3 eleições para os cargos, alguns potenciais candidatos abandonaram a legenda, agora foi a vez de Vanderlan.


O precedente dessa filiação é de um passado muito recente. Henrique Meirelles era um nome forte, uma novidade que representaria a quebra do político de carreira pra alguém que tem no currículo a presidência mundial de um banco e do Banco Central do Brasil. Isso não foi o suficiente para a abertura de espaço. Íris atropelou esse projeto que estava bem encaminhado, para mais uma vez ir às urnas. Meirelles, como era de se esperar, não permaneceu.


O ex-prefeito de Senador Canedo chegou com afagos e muitas promessas, fala vibrante de Iris na filiação, juras de amor eterno. O discurso no desfecho foi de que Vanderlan precisava conquistar seu espaço. Por quanto tempo? Se ele seria o candidato de 2014, porque não já investiram na pré-campanha, fato que fez muita falta pra ambos em 2010? As perguntas ficam no ar, as consequências saberemos daqui dois anos.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

A Casa




Era uma casa de uma venda engraçada

Não tinha nome no cheque, não tinha nada

Ninguém podia entender ela não

Porque não se sabe os donos quem são

Ninguém entendia os contatos da rede

Porque a sujeira tava debaixo do tapete

Ninguém sabia o que sai daí

Porque o Cachoeira foi preso alí

Mas era feita com laranjas espertos

No condomínio de poucos, contas com zeros.





*Paráfrase de "A casa", de Toquinho e Vinícios de Moraes. 

sábado, 26 de maio de 2012

As grandes coisas pequenas





Sinto falta viver de coisas pequenas,
aquilo que podemos não levar tanto a sério,
mas cura alguns problemas.
E desvenda um incômodo mistério.

Sinto falta de mergulhar em um olhar,
ouvir meu nome ser pronunciado calmamente.
De ser compreendido no momento de pensar,
de ter mais esperança de olhar pra frente.

Sinto falta de ter continuidade,
daquilo que construímos e sonhamos,
de experimentar a genuína cumplicidade.

Sinto falta de trilhar um caminho ousado,
de experimentar mais, de fazer melhor, 
e sentir mais alegria de ser amado.





quarta-feira, 9 de maio de 2012

Farda de luto



Tragédia, perplexidade, tristeza, perdas e várias perguntas. Esse é o momento que vive a Polícia Civil do estado de Goiás, e consequentemente todos os goianos. A situação chegou a esse triste quandro após a queda do helicóptero Coala nessa terça-feira, 8 de maio, após a 2ª reconstituição feita pela polícia no caso que já havia chocado todo o Brasil, que resultou em um assassinato brutal de sete pessoas no município de Doverlândia.

Cinco delegados que estavam no vôo, alguns jovens, porém experientes, e outros com uma folha extensa de serviços prestados na corporação. Dentre eles Antônio Gonçalves, na Polícia desde 1969, responsável por casos como o sequestro de Pedrinho pela empresária Vilma Martins, e Jorge Moreira, que comandou operações da morte de Polyanna, o assassino Corumbá, dentre muitos outros.

Profissionais sérios, de competência comprovada, sempre atendiam bem a imprensa. Lembro-me com certa emoção de uma entrevista com o delegado Jorge Moreira sobre o caso Polyanna, infelizmente não tenho mais o áudio dela, mas lembro-me que ele disse algo com o “As dores de perder um filho eu não conheço, mas as dores de buscar justiça estou acostumado, e nada faz me acomodar com elas.”

Um ofício tão difícil, que confronta com a miséria humana, os extremos da maldade de seres que passam por cima de quaisquer conceitos e valores. Lidar com isso no dia a dia, ter a energia de lidar com mentes desqualificadas e inoperantes, tantos os espinhos nesse caminho. Terminar a vida em um acidente aéreo não é uma forma plausível de pessoas com dessa envergadura.

Goiás passando por momentos tão instáveis, de crise política profunda, que reflete diretamente no serviço da Polícia Civil, que tinha um início de greve de servidores marcada para hoje. O secretário de Segurança Pública João Furtado faz uma gestão conturbada, transmitindo uma seriedade que não se estende às ações e percalços que atingem a segurança do estado.

É fácil cogitar várias implicações sobre esse acidente, principalmente da parte do assassino Aparecido Sousa Alves, que aos 22 anos foi o pivô de um crime bárbaro e depois a razão de um acidente trágico com alguns dos melhores profissionais de combate ao crime. As investigações continuarão, mas sofrem desfalques importantes em seu processo, assim como diversas delegacias e departamentos da Polícia Civil. Perdem-se grandes profissionais e consequentemente agilidade no caso, já a perda de valor humano é inestimável e insubstituível.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

#FORAMARCONI

Em 1984 tinha apenas um ano de idade, só anos depois vendo imagens na televisão que me lembro de assistir as passeatas pelas Diretas em várias partes do Brasil, eram anos em que a falida Ditadura Militar dava seus últimos suspiros e o país caminhava para profundas transformações sociais. Mais tarde, em 1992, vi a população brasileira pintar a cara e exigir a saída do primeiro presidente eleito democraticamente. Não vi mais minha geração tomar atitudes parecidas, nem em nível nacional, muito menos regionalmente. 




De lá pra cá, poucas foram as manifestações populares significativas que mostraram a insatisfação do povo com o seu governante. Em Goiás, a coisa andava mais devagar ainda, o histórico de coronelismo, familiocracia e os modos arcaicos de governar não tinham ainda provocado alguma mobilização que chamasse a atenção, isso durou até o quarto mês do segundo ano do terceiro mandato do governador Marconi Perillo. 


No dia 14 de abril, pela primeira vez diversos grupos se organizaram via Facebook em especial, com muitos comentários também no Twitter, vídeos no Youtube, com fins de irem às ruas em protesto contra os últimos acontecimentos envolvendo políticos goianos, em especial Marconi, muito citado em várias gravações, além do já "morto politicamente" e "ex-paladino da moralidade" Demóstenes Torres, flagrado em diversas escutas telefônicas reveladas na Operação Monte Carlo que investiga as relações ilícitas do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos de diversos partidos.




Na segunda semana, dia 21, aliado ao movimento nacional contra a corrupção, o Fora Marconi ganhou mais peso, saiu da Assembléia Legislativa, foi até a Praça Tamandaré, e voltou pra Praça Cívica, terminando em frente ao prédio do TRE, local em que dois incidentes aconteceram, mas que foram atos isolados de pessoas que não entenderam (ou fingiram que não), o propósito da organização. Aglomerados urbanos, de tantas pessoas diferentes infelizmente estão sujeitos a isso, mas o foco do protesto foi mantido.


A presença foi significativa, principalmente pelo fato inédito que representava. A cobertura da imprensa deu um bom espaço, tirando um ou outro veículo que não disfarçam as relações com o governo, os quais tentaram diminuir como puderam os efeitos do que o povo queria. A assessoria do governador insistiu em argumentar que era a favor da expressão livre e democrática, porém não achava que a manifestação expressava a opinião dos goianos, além de atacar veículos de comunicação que mostram podres da administração pública. Sim, o governo foi eleito no voto democrático, mas atitudes assim em uma época de mídias instantâneas e informação acessível, é um tiro no pé.




O que está acontecendo não é uma tentativa de terceiro turno, mas sim pessoas levantando da frente do computador e agindo como podem, mesmo com a maioria elegendo, ninguém é obrigado a esperar 4 anos para se indignar e mostrar isso de forma ordeira e expressiva. Termos uma queda do governador é a coisa mais difícil de acontecer, mas quem disse que as Diretas, o Fora Collor foram fáceis? Se esse não for o caminho, mas sim uma varredura na equipe do governo, como aos poucos está acontecendo, e parlamentares de calças curtas explicando o inexplicável, já é um ganho considerável.


Recentes notícias como a conturbada venda da casa de Marconi que virou de Cachoeira, em um condomínio de luxo de Goiânia, que o Estadão trouxe detalhes, dão mais ingredientes para o III Fora Marconi, que foi marcado para esse sábado, dia 05 de maio, 10h com saída no Lago das Rosas, do Setor Oeste. É prudente ao governo mudar a postura e não desqualificar um movimento que ganha proporções maiores, assim como as denúncias e provas que vem surgindo. Muitas mudanças vem acontecendo, e que os trabalhos de CPIs e do Poder Judiciário não ignorem a voz das ruas em suas investigações e julgamentos. 


Fotos de Victor Mileo.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Quem investiga quem?


A Operação Monte Carlo se desdobra em proporções a perder de vista, todo dia são fatos novos, provas novas, nomes novos envolvidos com o que aparentemente seria só a exploração ilegal do jogo do bicho em Goiás, agora virou o maior esquema de corrupção da política nacional. Sem esquecer o mensalão, cujas investigações reaparecem, com muita propulsão de guerra partidária, mas são ofuscadas por tantos envolvimentos de agentes públicos em torno de um empresário, de uma construtora e uma CPMI surgindo com a árdua missão de julgar os envolvidos, mas aí vem mais problemas: Quem vai julgar?

Alguns pontos da legislação brasileira não favorecem o trato isento de quem investiga e decide o destino dos agentes políticos apanhados em manobras ilícitas. As cotas de nomeações do judiciário são a maior prova disso; os chefes do executivo escolherem boa parcela da instância que julgam eles próprios, não é o que se pode chamar de colegiado isento.

No legislativo as escolhas de relatores e presidentes das Comissões Parlamentares Mistas de Inquéritos fazem parte, como em toda a maneira de fazer política, de conchavos e acordos partidários. Buscando um ilusório equilíbrio da mesa que irá julgar os colegas, e chamar para depor aqueles que normalmente estão envolvidos com vários da casa. Credibilidade é uma palavra que não passa muito aí.

Historicamente o povo sempre tem ao que recorrer por meio do Ministério Público, o único órgão de representatividade que não passa pelos mesmos crivos de nomeações das outras instâncias do Poder Judiciário, diferente dos Tribunais de Contas, que não dificilmente deixam passar aprovações de contas dos governantes que os colocaram lá. Mas o que acontece quando até membros do outrora ilibado MP entra na roda das investigações?

No executivo vemos os governadores de Goiás e do DF, talvez até o do Rio de Janeiro, preocupados com o que mais respingará em seus nomes nas escutas telefônicas da Polícia Federal. Qualquer envolvimento com a mega operação é perigoso, mas o excesso de publicidade do caso não ajuda em sua solução, a mídia em parte se cala por ter a quem responder nos envolvidos, em parte denuncia com teor de maior agravante que as provas aparecem, deixando o povo perplexo e sem esperança alguma na famigerada classe política.

Desanima pensar em onde, tanto a CPMI quanto as investigações da Polícia Federal, vão chegar. Parece não haver um horizonte que permita um desfecho que mostre pra sociedade o tanto de bandido e os poucos mocinhos. A sujeira da lama condena todo mundo, mas a influência do poder maquia a cara da maioria.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Tá liberado! Para nossa alegria, só que não!

Enquanto o Brasil se vê às voltas com a Operação Monte Carlo, os trabalhos no Congresso Nacional seguem. Na noite dessa quarta-feira, no Plenário da Câmara dos Deputados, nossos representantes votaram uma Lei seríssima, cujas consequências poderão ser bem graves. A Lei Geral da Copa, propõe questões vitais para o andamento do Mundial de Futebol de 2014. Uma das pauta sempre recai no futebol brasileiro: A venda de cervejas. 


Primeiramente é bom deixar claro: Não bebo, não gosto de cervejas, com raríssimas exceções, o que mais raramente ainda me leva a saborear alguma. Independente disso, meu posicionamento nessa questão não se limita a gosto pessoal, mas sim a preocupação das eminências proporções que a liberação pode causar. Isso pra mim é uma carta branca para o torcedor ficar livre pra agir como bem o álcool o quiser controlar, em uma competição como a Copa do Mundo, trazendo visitantes de todas as partes do mundo, os riscos só aumentam.


Claro que fazer "esquenta" em bares de arredores é normal, na porta do estádio é inevitável, muitos entram já "calibrados", agora isso não se compara à venda dentro do local, onde o torcedor ficará por mais de duas horas, com as emoções a flor da pele. O consumo desenfreado, aliado ao contágio que o jogo proporciona não transmitem a menor segurança. Parece tempestade em copo d'água, mas confusões podem ser armadas a qualquer momento.


É claro que o interesse da FIFA é pela liberação, o dinheiro que entra e interesse popular são maiores, passando por cima de todos os riscos que se fica sujeito. O que o Estatuto do Torcedor (na proibição da venda), delibera não é nada nessa hora, dinheiro é tudo. E com certeza alguns parlamentares estão muito bem recompensados por essa medida, como lhes é peculiar em todas as votações. Veja aqui a lista com os votos dos deputados.


A UEFA, entidade que rege o futebol da Europa, foi exatamente na contramão, proibindo a comercialização de bebida alcóolica em seus estádios. A diferença da cultura de estádios lá com o Brasil é gritante, e essa disparidade só faz ressaltar isso. Com o empurrãozinho das autoridades pouca coisa vai mudar, e com toda corrupção que assola a organização da Copa, mesmo com a presidente tomando medidas rígidas, mais um ingrediente põe o Brasil em situação delicada ao sediar o Mundial.


Parabéns aos deputados Ronaldo Caiado (DEM) e Armando Virgílio (PSD) que se posicionaram no plenário e defenderam no twitter a favor da proibição. Lamento pelos deputados goianos que votaram o não contra as bebidas: Flávia Moraes (PDT), Jovair Arantes (PTB), Leandro Vilela (PMDB), Magna Mofatto (PTB), Marina Santanna (PT), Pedro Chaves (PMDB), Rubens Otoni (PT), Sandes Junior (PP) e Valdivino de Oliveira (PSDB). Fizeram um desserviço à população, e as consequências virão.


Em tempo: A lei ainda dá a autonomia aos estados-sedes para decidir, a matéria ainda será votada no senado, mas não é difícil imaginar o lobby e o esforço para que tudo saia como convém a quem é de interesse.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Até tu, Demóstenes?




Essa é a pergunta que o Brasil mais tem feito nas últimas horas. O senador que por anos construíu uma  imagem de caráter ilibado, luta pela ética e honra, formação juridica brilhante, que despontou em Goiás como um grande secretário de Segurança Pública e Justiça, que o levou ao Congresso para se tornar referência na área. Agora tudo entra em xeque, ao cair uma bomba sobre as fortes ligações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.


De algumas semanas pra cá, o envolvimento já era desenhado, porém, sem nada que atingisse em cheio o senador, até a revista Carta Capital soltar a matéria: "Os 30% de Demóstenes". A participação do parlamentar seria bem maior que a imaginada pela maioria. Escutas da Polícia Federal dariam conta que o montante de R$ 170,00 seria repassados em 1/3 para Demóstenes, que por indicações controlaria a legalidade das máquinas caça-níqueis em Goiás.


Em seu twitter, Demóstenes se defendeu com o juridiquês cabível, negando veementemente qualquer veracidade dessas informações. Sim, ele tem todo o direito a defesa, o que todo jurista nos faz questão de lembrar. As influências que o senador tem no Poder Judiciário, são percebidas no fato que que a  Procuradoria Geral da República teria recebido as denúncias da Polícia Federal em 2009, e não teria levado o caso adiante, como levantou o jornalista Josias de Souza em seu blog.


As denúncias não estão aliviando o lado partidário, visto que são citados também os deputados Rubens Otoni (PT), Carlos Alberto Leréia (PSDB), Sandes Júnior (PP) e Jovair Arantes (PTB), e até o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), esse porém de forma mais superficial, apenas com o negócio de uma casa em um condomínio de luxo, que pertencia a Marconi e foi vendida para Cachoeira, segundo esse um "presente" para seu filho que estava casando.


Com tamanho trânsito que o senador tem nesses meios, e sua formação, fica mais difícil acreditar em sua na inocência. Seu partido, o Democratas, já está em enorme descrédito desde a queda de José Roberto Arruda no DF, e a debandanda de vários filiados para o ressurreto PSD. No mesmo dia em que o deputado Ronaldo Caiado, tal como Demóstenes respeitado pela sua seriedade, alegou também no twitter não assinar a CPI que investigaria Cachoeira, a bomba explode pro lado de Demóstenes. Coincidência?


Não votei em Demóstenes em sua última disputa eleitoral, o motivo foi um fato isolado, do mesmo ter sido contrário à obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. Fora críticas pontuais, nunca duvidei do homem Demóstenes Torres. Agora resta acompanhar o prosseguimento do caso, e ver se essa reserva moral cairá por terra, e decepcionará mais ainda os brasileiros com a descreditada classe política.


quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Religião x Estado




Três personalidades, três extremos, três influências, três líderes cristãos que viraram notícia em três dias. As comparações entre eles param por aí. O motivo das manchetes diferem bastante, e infelizmente, para muitos são farinhas do mesmo saco. É preciso um exercício de despir-se de generalizações para poder de forma clara se entender quem de fato são e qual a realidade de cada um.


Nessa quarta-feira o que pipocou nos jornais e mais ainda nas redes sociais foi o anúncio da presidenta Dilma do novo Ministro da Pesca, trata-se de Marcelo Crivella (PRB), senador que tem um longo histórico ligado como bispo da Igreja Universal do Reino de Deus. O que muitos não sabem é que o mesmo não faz mais parte dessa denominação, e a ligação com práticas polêmicas dessa e de seu líder Edir Macedo não fundamentam o trabalho parlamentar de Crivella. Pode-se argumentar que o mesmo não é qualificado para tal ministério. Mas quem o é? Já se foi uma polêmica a criação dessa pasta, desmembrada do Ministério da Agricultura.

As piadas e trocadilhos com passagens bíblicas são inevitáveis, dado o nome da pasta, daí se vê o rótulo impregnado na sociedade, que não vê naturalmente a inserção de líderes ligados a igrejas no poder. O senador já foi um defensor eficiente de Direitos Humanos e lavanta bandeiras sociais importantes no Congresso, as pessoas precisam separar a atuação política de qualquer ofício e ligações indiretas com pessoas de caráter duvidosos. Muitas análises entendem que a indicação ao cargo foi uma trégua do Planalto com a bancada evangélica, mas isso é negado pela mesma.


A afirmação é do deputado federal goiano João Campos (PSDB). Líder da Frente Parlamentar Evangélica e delegado de Polícia, daí se julga um perfil conservador, o que de fato é. Também criou bafafá na imprensa ao propor um Projeto de Decreto Legislativo para tornar sem efeito a resolução que estabelece normas de atuação dos psicólogos em relação à orientação sexual dos pacientes. Com isso declarou não querer estabelecer o comportamento sexual como doença, mas dar autonomia para uma orientação. 

Isso significaria o direito de se tratar para uma mudança de opção sexual, aí o embate está formado tanto com a comunidade GLBT (não sei qual a última sigla usada), como para quem simplesmente não vê razões para se encaixar o comportamento em qualquer aspecto de saúde pública. Eu penso assim, com ressalvas. Dar orientação pode ser válido, enquanto for um conflito mental para a pessoa, caso contrário, o Estado não deve interferir. Isso dá muito pano pra manga, eis um bom estudo sobre o assunto aqui.


Muito diferente dos dois políticos, está o Bispo da Igreja Anglicana Robinson Cavalcanti, a trágica morte dele e de sua esposa sensibilizou o país, porém muito mais aqueles que acompanharam a obra literária, pregações e posicionamentos de muita relevância de quem tinha muita propriedade para falar. Pra mim não cabe discutir sobre adoção e o comportamento desequilibrado de um filho acolhido por ele e mergulhado nas drogas.

A muito admiro a sensatez e clareza desse ministro do evangelho. Não se resguardava de assuntos polêmicos e aplicava os ensinos bíblicos a uma perspectiva moderna diante das realidades seculares. Seu livro Cristianismo e Política - Teoria Bíblica e Prática Histórica, rompeu as barreiras que insistem em taxar a mistura de igreja e Estado com a atuação de quem professa uma fé cristã na política militante, indo muito além disso. Nada mais apropriado para se analisar o momento de Marcelo Crivella e João Campos. 
Para conhecer mais a história desse servo de Deus, leia aqui