Blog do Paullo Di Castro


segunda-feira, 28 de maio de 2012

A Casa




Era uma casa de uma venda engraçada

Não tinha nome no cheque, não tinha nada

Ninguém podia entender ela não

Porque não se sabe os donos quem são

Ninguém entendia os contatos da rede

Porque a sujeira tava debaixo do tapete

Ninguém sabia o que sai daí

Porque o Cachoeira foi preso alí

Mas era feita com laranjas espertos

No condomínio de poucos, contas com zeros.





*Paráfrase de "A casa", de Toquinho e Vinícios de Moraes. 

sábado, 26 de maio de 2012

As grandes coisas pequenas





Sinto falta viver de coisas pequenas,
aquilo que podemos não levar tanto a sério,
mas cura alguns problemas.
E desvenda um incômodo mistério.

Sinto falta de mergulhar em um olhar,
ouvir meu nome ser pronunciado calmamente.
De ser compreendido no momento de pensar,
de ter mais esperança de olhar pra frente.

Sinto falta de ter continuidade,
daquilo que construímos e sonhamos,
de experimentar a genuína cumplicidade.

Sinto falta de trilhar um caminho ousado,
de experimentar mais, de fazer melhor, 
e sentir mais alegria de ser amado.





quarta-feira, 9 de maio de 2012

Farda de luto



Tragédia, perplexidade, tristeza, perdas e várias perguntas. Esse é o momento que vive a Polícia Civil do estado de Goiás, e consequentemente todos os goianos. A situação chegou a esse triste quandro após a queda do helicóptero Coala nessa terça-feira, 8 de maio, após a 2ª reconstituição feita pela polícia no caso que já havia chocado todo o Brasil, que resultou em um assassinato brutal de sete pessoas no município de Doverlândia.

Cinco delegados que estavam no vôo, alguns jovens, porém experientes, e outros com uma folha extensa de serviços prestados na corporação. Dentre eles Antônio Gonçalves, na Polícia desde 1969, responsável por casos como o sequestro de Pedrinho pela empresária Vilma Martins, e Jorge Moreira, que comandou operações da morte de Polyanna, o assassino Corumbá, dentre muitos outros.

Profissionais sérios, de competência comprovada, sempre atendiam bem a imprensa. Lembro-me com certa emoção de uma entrevista com o delegado Jorge Moreira sobre o caso Polyanna, infelizmente não tenho mais o áudio dela, mas lembro-me que ele disse algo com o “As dores de perder um filho eu não conheço, mas as dores de buscar justiça estou acostumado, e nada faz me acomodar com elas.”

Um ofício tão difícil, que confronta com a miséria humana, os extremos da maldade de seres que passam por cima de quaisquer conceitos e valores. Lidar com isso no dia a dia, ter a energia de lidar com mentes desqualificadas e inoperantes, tantos os espinhos nesse caminho. Terminar a vida em um acidente aéreo não é uma forma plausível de pessoas com dessa envergadura.

Goiás passando por momentos tão instáveis, de crise política profunda, que reflete diretamente no serviço da Polícia Civil, que tinha um início de greve de servidores marcada para hoje. O secretário de Segurança Pública João Furtado faz uma gestão conturbada, transmitindo uma seriedade que não se estende às ações e percalços que atingem a segurança do estado.

É fácil cogitar várias implicações sobre esse acidente, principalmente da parte do assassino Aparecido Sousa Alves, que aos 22 anos foi o pivô de um crime bárbaro e depois a razão de um acidente trágico com alguns dos melhores profissionais de combate ao crime. As investigações continuarão, mas sofrem desfalques importantes em seu processo, assim como diversas delegacias e departamentos da Polícia Civil. Perdem-se grandes profissionais e consequentemente agilidade no caso, já a perda de valor humano é inestimável e insubstituível.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

#FORAMARCONI

Em 1984 tinha apenas um ano de idade, só anos depois vendo imagens na televisão que me lembro de assistir as passeatas pelas Diretas em várias partes do Brasil, eram anos em que a falida Ditadura Militar dava seus últimos suspiros e o país caminhava para profundas transformações sociais. Mais tarde, em 1992, vi a população brasileira pintar a cara e exigir a saída do primeiro presidente eleito democraticamente. Não vi mais minha geração tomar atitudes parecidas, nem em nível nacional, muito menos regionalmente. 




De lá pra cá, poucas foram as manifestações populares significativas que mostraram a insatisfação do povo com o seu governante. Em Goiás, a coisa andava mais devagar ainda, o histórico de coronelismo, familiocracia e os modos arcaicos de governar não tinham ainda provocado alguma mobilização que chamasse a atenção, isso durou até o quarto mês do segundo ano do terceiro mandato do governador Marconi Perillo. 


No dia 14 de abril, pela primeira vez diversos grupos se organizaram via Facebook em especial, com muitos comentários também no Twitter, vídeos no Youtube, com fins de irem às ruas em protesto contra os últimos acontecimentos envolvendo políticos goianos, em especial Marconi, muito citado em várias gravações, além do já "morto politicamente" e "ex-paladino da moralidade" Demóstenes Torres, flagrado em diversas escutas telefônicas reveladas na Operação Monte Carlo que investiga as relações ilícitas do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos de diversos partidos.




Na segunda semana, dia 21, aliado ao movimento nacional contra a corrupção, o Fora Marconi ganhou mais peso, saiu da Assembléia Legislativa, foi até a Praça Tamandaré, e voltou pra Praça Cívica, terminando em frente ao prédio do TRE, local em que dois incidentes aconteceram, mas que foram atos isolados de pessoas que não entenderam (ou fingiram que não), o propósito da organização. Aglomerados urbanos, de tantas pessoas diferentes infelizmente estão sujeitos a isso, mas o foco do protesto foi mantido.


A presença foi significativa, principalmente pelo fato inédito que representava. A cobertura da imprensa deu um bom espaço, tirando um ou outro veículo que não disfarçam as relações com o governo, os quais tentaram diminuir como puderam os efeitos do que o povo queria. A assessoria do governador insistiu em argumentar que era a favor da expressão livre e democrática, porém não achava que a manifestação expressava a opinião dos goianos, além de atacar veículos de comunicação que mostram podres da administração pública. Sim, o governo foi eleito no voto democrático, mas atitudes assim em uma época de mídias instantâneas e informação acessível, é um tiro no pé.




O que está acontecendo não é uma tentativa de terceiro turno, mas sim pessoas levantando da frente do computador e agindo como podem, mesmo com a maioria elegendo, ninguém é obrigado a esperar 4 anos para se indignar e mostrar isso de forma ordeira e expressiva. Termos uma queda do governador é a coisa mais difícil de acontecer, mas quem disse que as Diretas, o Fora Collor foram fáceis? Se esse não for o caminho, mas sim uma varredura na equipe do governo, como aos poucos está acontecendo, e parlamentares de calças curtas explicando o inexplicável, já é um ganho considerável.


Recentes notícias como a conturbada venda da casa de Marconi que virou de Cachoeira, em um condomínio de luxo de Goiânia, que o Estadão trouxe detalhes, dão mais ingredientes para o III Fora Marconi, que foi marcado para esse sábado, dia 05 de maio, 10h com saída no Lago das Rosas, do Setor Oeste. É prudente ao governo mudar a postura e não desqualificar um movimento que ganha proporções maiores, assim como as denúncias e provas que vem surgindo. Muitas mudanças vem acontecendo, e que os trabalhos de CPIs e do Poder Judiciário não ignorem a voz das ruas em suas investigações e julgamentos. 


Fotos de Victor Mileo.