Blog do Paullo Di Castro


terça-feira, 31 de julho de 2012

A futilidade da "musa"



A mulher cada vez mais ganha  ascensão, conquista lugares maiores no mercado de trabalho, mas existem motivações que mais parecem retrocesso para a figura feminina. Uma grife que permanece incansável e virou uma praga, é a de "musa" de algum segmento. Colocar mulher bonita associada a algum produto é tática certa do mercado publicitário, e sim, vende! Mas o culto ao corpo não precisava alcançar qualquer instância social e profissional, o que dirá na política!

As musas inspiradoras de poetas, músicos, artistas plásticos sempre existem, mas apenas figuravam como dedicatórias para obras de cunho artístico. Belíssimas canções tiveram suas origens graças a formosura e charme de várias mulheres. Até aí tudo certo, bela contribuição dessas donzelas para seus inspirados artistas. Mas quando se extrapola lugares que exigem seriedade e foco completamente diferentes, a coisa muda de figura.


O termo musa virou uma banalização de promoção de atributos físicos, usando como pano de fundo de um segmento que não tenha nada a ver com a figura de uma mulher. Na campanha ao governo de Goiás em 2010, a coligação vencedora fez uso de sua musa, e viu depois que quase foi um tiro no pé. Garota 45 com certeza foi uma das coisas mais ridículas que já tinha visto na política. Isso antes de saber quem era, e do que é capaz de fazer a senhora Andressa "Cachoeira" Mendonça. Ganhar a alcunha de "musa da CPI", foi só o começo.


É tarefa dispensável julgar a trajetória da moça. O fato de ser ex-mulher do senador Wilder Morais, que assumiu a vaga do deposto Demóstenes Torres, mostra ramificações conturbadas dela com o mundo político. O mundo de glamour e luxo mostrado em gravações da Polícia Federal, e de presença vip na alta sociedade goiana, já falam por sim só sobre a senhora Cachoeira, que nem esposa é, fato atrapalhado pela prisão do bicheiro, mas que não desqualifica a união estável e de negócios que os dois tinham.

A beleza vira justificativa da incansável exposição de Andressa na mídia. Além dos atributos físicos, elegância, ela produz fatos novos, mesmo os banais, entram no lugar do que se espera de concreto nas investigações em torno de Carlinhos Cachoeira. As juras de amor trocada pelos dois tomaram o lugar daquilo que mais interessava: A versão de Carlinhos Cachoeira sobre os fatos. Quanto mais protagonista se torna, mais existe pauta para falar de Andressa.


Uma hora ela será esquecida, mas enquanto isso, o "amor bandido" continua tomando conta do noticiário que poderia aparentemente estar em editorias de entretenimento, mas em vez disso ocupa manchetes principais e toma conta de cadernos de Cidades, Política e Justiça. Como arquivos vivos sobre os maiores rombos ao dinheiro público revelados nos últimos anos, o casal permanecerá por um tempo ainda na grande mídia. Não tem eleições, nem mensalão, nem Olimpíadas que tomem espaço deles. Aguentemos!

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Triste fim, sombrio recomeço.

Um dia triste, sem precedentes para todo o estado de Goiás, não bastassem os últimos crimes na capital, como o estarrecedor assassinato do radialista Valério Luiz, a segurança pública em caos, greves, e instabilidade em várias áreas, ainda vivenciamos o nosso primeiro senador perder o mandato, o segundo na história do Brasil. Ele, que era o próprio senhor-Justiça.


O que tirou Demóstenes Torres do Congresso não foram os 56 votos pró-cassação, mesmo em votação fechada, seus colegas agiram com a cabeça lá fora, por fora das paredes daquela casa estavam todos os brasileiros perplexos, indignados e pedindo a cabeça do agora ex-senador. O episódio foi instrumento de um jogo político do governo contra a oposição? Sem dúvida sim, mas maior que as canetadas do Executivo é a massificação da rejeição pública.


Como homem com formação brilhante em Ciências Jurídicas e extensa carreira em ascensão, Demóstenes usou dos últimos minutos que contava na tribuna pra discorrer sua inocência baseado em princípios norteadores que não são uma prática plausível para a sua situação. Comparar seu caso com Jesus, Pilatos e Judas foi um desfecho lamentável pra quem um dia já usou seu mandato para o cumprimento da Justiça. Nem com o advogado mais bem sucedido, que livrou a cara de tantos, a sua pele seria salva.


A vida política de Demóstenes foi para o ralo, mas as implicações desse caso são extensas e preocupantes. Ele vai lutar por sua inocência até o Supremo Tribunal Federal. Colocar-se como bode expiatório do caso Cachoeira era natural, mas lutar por seu mandato com o sério risco de perdê-lo, junto aos direitos políticos por 15 anos, foi uma ousadia e tanto. Muito diferente de outros como Renan Calheiros que já renunciaram pra escapar da cassação, e no mandato seguinte se elegeu como se nada tivesse acontecido.


Aquele antigo procurador do estado, conhecido pelo empenho de estourar o cativeiro de Wellington Camargo, que era o Presidente da Comissão de Constituição e Justiça, relator da CPI dos Bingos, e agora, que ironia, aparece em escutas da Polícia Federal acertando com Carlinhos Cachoeira favores pra unir debaixo dos panos a máquina pública e privada. É uma mudança e tanto de comportamento, perspectivas, prioridades e duelo verdade x mentira.


A vaga deixada é outra polêmica, o suplente imediato Wilder Morais tem muita coisa pra explicar. É no mínimo curioso traçar o perfil dele como um dos homens mais ricos do estado, com patrimônio e declarações de imposto colocadas em dúvida. Não o bastante, é ex-marido da companheira de Cachoeira, Andressa, e secretário de Infraestrutura do governo Marconi. O currículo e consequentemente ligações com outros investigados não ajuda, assumir sem ser eleito precisa urgentemente ser repensado, do contrário teremos financiadores como ele e Cyro Miranda, herdeiro de Marconi, assumindo as vagas a quem o povo não os destinou.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Efervescência Cultural em Goiás


O fim de semana passado foi muito peculiar em vários aspectos para a cultura, artes, comunicação e empreendedorismo em Goiás. Vários eventos em diversos locais aconteceram pra encerrar o semestre com chave de ouro. São tantos que até dá pesar de não participar de alguns, mas isso é ótimo pro nosso estado. Foi-se o tempo em que as boas opções eram espaças no calendário. Hoje a agenda é extensa, recheada de oportunidades para todos os gostos. 


Pra começar a destacar algum, nada melhor que falar do FICA, a edição desse ano foi bastante movimentada, um belo trabalho da SeCult. Trazer um ícone como Caetano Veloso, que pouco pisa em solo goiano é um ápice, mas deve-se valorizar mais ainda iniciativas de participação de alunos de escolas públicas, o número de oficinas e seminários temáticos que engrandecem muito o evento. Estima-se que 140 mil pessoas compareceram nessa edição, o que mostra o prestígio e crescimento do Festival. Destaco também a presença da Orquestra Imperial, foi outra grande sacada. É um coletivo de músicos excepcionais, a maioria do Rio, caberia um post só pra falar deles. A Mostra da ABD deu o lugar merecido às produções goianas, que não precisam de cota na mostra competitiva pra mostrar seu valor. 


Outro evento bem bacana, voltado para a área de comunicação, foi o II Intermídias, excelente iniciativa da Contato Comunicação. O investimento nessa edição foi grande, trazendo personalidades de muita influência fora, e o mais importante; valorizando diversos profissionais e atuantes nas mídias sociais de Goiás. Os debates e temas foram enriquecedores, o mercado de mídias digitais que tanto cresce e tanto precisa de esclarecimentos, pede por eventos assim. O Intermídias poderia ser prorrogar mais, dois dias e dois períodos já ficou pequeno pra abrangência dos assuntos tratados.


A Feira do Empreendedor já é uma tradição de Goiás. O Sebrae faz um excelente trabalho, em especial para os micro e pequenos empresários, que recebem cursos, consultorias e um bom suporte pra começar e engrenar o seu próprio negócio. A feira trás novidades dos mercados, idéias inovadoras e vira também uma ótima opção para o público em geral, além de incentivar nossos empreendedores a colocarem sua força de trabalho priorizando o benefício próprio e consequentemente da comunidade. 


Pra encerrar, nada melhor que falar do evento que faço parte, um festival cultural que anda na contramão da grande mídia, que valoriza artistas que não precisam pagar jabá, ter mega produções por trás para ter o espaço. O Prosa & Canto Festival fez a sua quinta edição, mantendo essa proposta ousada. Não é um festival gospel, justamente por fugir dessa lógica de mercado, e abrir espaço para a música brasileira, de conteúdo em letras, que preza os ritmos regionais e a atitude dos tradicionais. O ponto de encontro que atende tão bem o eixo Goiânia-Anápolis-Brasilia, assim como vários outros, vira uma grande confraternização, regada pela boa música, boa comida típica, um frio que pede por mais aconchego ainda. A cada ano se cresce mais, a luta por realizar e ver o resultado disso continua sendo um incentivo para a Lam-C e Áudio House System fazerem um festival maior, acreditando ser possível trabalhar uma cosmovisão cristã em harmonia com a música de qualidade independente de rótulos.


Goiás luta ainda com indiferença do centro econômico de Rio e São Paulo, mas cada vez mais usa de sua posição geográfica privilegiada para fomentar diversos eventos que promovam as artes, trabalhos e ofertas de ótimos momentos para diferentes públicos. Existem a pulverização da massa que realizam coisas como o Villa Mix, que aproveitam a explosão do sertanejo pra fazer uma festa com o que de pior o cidadão pode ir pra fazer. Deixando de legado um lixo imenso, muitos bêbados saindo pra dirigir e a certeza que Goiás não se resume a isso, é muito mais. Basta prestigiar os eventos primeiros aqui descritos, e saber que quem quer curtir e se entreter de maneira mais edificante, tem sempre bons e agradáveis lugares para ir.  


Foto de Simone Lago: www.simonelago.com