Blog do Paullo Di Castro


sábado, 24 de outubro de 2015

De volta para o presente


Chegou o dia 21 de outubro de 2015, data prevista para a viagem no futuro lá nos anos 80, vivida pelos personagens Marty McFly e Dr. Emmett Brown na série de filmes “De volta para o Futuro” representado atores Michael J. Fox e Christopher Lloyd respectivamente. Diversas homenagens e comparações foram feitas para aquilo que o cinema idealizou e o que temos hoje. Eles acertaram muita coisa, e em outras estamos perto ou longe de ter, assim como surgiram outras que nem chegam perto do que foi sonhado lá atrás.

Em meio e a tudo isso tive um sonho bem interessante. Sonhei com esses caras vindo parar em Goiânia! Sim, minha querida terra que completa 82 anos nesse 24 de outubro. Como sou vizinho da Praça Cívica, ao centro da cidade, caminhava despreocupadamente quando avistei o DeLorean ao lado do Monumento das 3 Raças. Segue o diálogo após me apresentar para aqueles dois figuras.

- Como é que é? Viemos para no Brasil? Terra de Pelé! Vocês continuam jogando aquele bolão, como Seleção de 82? – perguntou Dr. Brown.

- Éeee...Não exatamente! Fomos pentacampeões, mas nosso time não anda lá essas coisas. A Alemanha ganhou de 7x1 na última Copa, que por acaso foi aqui....

- Eita! Mas vamos mudar o papo. Tou vendo umas arquiteturas que não parecem coisa de século XXI, estamos mesmo em 2015? - perguntou McFly.

- Sim, estamos. Nós temos orgulho em Goiânia de ter essa arquitetura de Arte Déco, como esse Palácio verde, que é sede do governo. Esse monumento ao lado simboliza o homem branco, o indígena e o negro, que já moravam aqui e ajudaram na construção da cidade.

- Uau, e os indígenas, como vivem hoje? Tenho muita curiosidade para saber sobre eles -  disse Dr. Brown.

- Não muito bem, muitos não possuem demarcação de suas terras e vivem com muita influência de nós da cidade, pegam nossas doenças que antes não pegavam, tem acesso difícil à educação e saúde e muitos são mortos, infelizmente. Os negros estão mais inseridos na identidade do brasileiro, mas ainda tem os que ficam em suas comunidades, chamadas de quilombolas, e os que tentam preservar sua cultura em várias cidades.

- Que triste! Eles mereciam tratamento melhor. Mas você nos leva pra dar uma volta na cidade? Quero muito saber as novidades que temos por aqui.

Então os conduzo pela Av. Goiás abaixo, eles ficam admirados com a beleza das ilhas e com o tanto de carro que passa. Passamos pela estátua da Praça do Bandeirante, e fico com medo de responder de quem se trata, ainda mais depois do que ouviram sobre os negros e os índios. Sorte que não perguntaram. Viram de longe o Estádio Olímpico e Centro de Excelência e pediram pra ir lá. Com vergonha respondo que não está pronto, mesmo sendo derrubado pra reforma desde o ano 2000. Chegamos na Praça do Trabalhador, eles pedem pra ver a Maria Fumaça de perto.

- Podemos dar um passeio nela? Seria fantástico! – pergunta McFly.

-Infelizmente não. Está desativada. Hoje o país muitos poucos trens em funcionamento.

- Mas como vocês transportam carga por esse país tão grande? Já inventaram transporte aéreo mais funcional? Até agora estive olhando para o céu e não vi nenhum! – disse o doutor.

- O transporte aéreo ainda é muito caro. Para passageiros ficou popular, mas os aeroportos com frequência ficam lotados e nos faz ter longas esperas, fazendo conexões pra todo lado.

- Que desperdício de tempo! Mas tem um transporte mais rápido por terra? – pergunta McFly.

- Pra cidade estão construindo na Avenida que passa aqui, tá vendo aquele monte de terra adiante? Pena que pra isso derrubaram muitas árvores.

- Por que não fizeram subterrâneo para poupar as pobres árvores e dar mais qualidade de vida pra vocês? – questiona Dr. Brown.

- Os custos são muito altos, mas teríamos condições sim, porém o que mais impede é a corrupção em todas as esferas da sociedade.

Depois disso continuamos o passeio. Sigo na Av. Independência até o Lago das Rosas. Eles se admiram com a beleza de lá, e perguntam o que mais tem pra ficar tudo cercado.

- Aqui também é o zoológico da cidade, várias espécies de animais estão aí, presas.

- Ainda com essa ideia de deixar os bichos presos no meio da cidade? Que sociedade burra a nossa! Por que não soltam eles no habitat natural, longe de nós? Eu desenvolveria uma realidade virtual que seria bem mais emocionante que ver eles desse jeito! – diz o doutor.

Percebo que McFly está chorando em silêncio. Ele viu uma mãe com bebê no colo sentada na calçada enquanto o marido com o filho pequeno ao lado pede dinheiro no sinal na Avenida Anhanguera.

Continuamos até o Setor Bueno, vão comentando várias coisas no caminho. Chegamos no Parque Vaca Brava. Eles ficam perguntando se não é perigoso alguns que andam de bicicleta em meio aos carros.

-É sim, estão fazendo ciclovias para se andar só de bicicleta. Mas ainda tem poucas e algumas em más condições.

- Pelo tanto de carro que temos visto aqui, acho que eles que tem prioridade. – acerta na mosca o Dr. Brown.

Tomamos uma água de côco por lá, depois fomos ao Shopping para tentar mostrar algo “moderno” para eles. Só chama atenção deles o celular touch screen e o tablet (vi um sorriso de satisfação no Dr. Brown de já ter inventado aquilo). No cinema 3D acharam legal, mas saíram com a sensação de que esperavam mais.

Seguimos o city tour pela T-63. Perguntam do monumento de lá e eu desconverso. Acho melhor levar eles pro Areião. Ficam encantados com os bambus e os macacos de lá, até que um deles rouba a pipoca de McFly.

Então fomos para o Parque Flamboyant, acho que enjoaram de parques, apesar de terem gostado, admiraram o tanto de prédio na região e ficaram incomodados com alguns sons alternativos e shows de duplas que haviam ouvido por lá e antes no Marista.

Resolvi levar eles pro Centro Cultural Oscar Niemayer. Muita gente andando de skate e patins. McFly ficou doido pra saber se já tinham inventado o skate que flutua. Ficou decepcionado que ainda não existem no mercado.

- O que funciona em cada prédio desse? - pergunta o doutor.

- Ali tem o Palácio da Música, tem shows muito bons, desde rock a música clássica.

- E aquele ali? – aponta para onde eu menos queria.

- Beeem, era pra ser uma Biblioteca, só que não foi liberada para uso, não suportaria o peso dos livros.

-Uai, mas aqui não leva o nome daquele famoso arquiteto, não foi o que projetou a capital? – diz, coçando a cabeleira.

- Sim, mas o projeto não é exatamente dele.

- Aaah...

Desconverso de novo e eles fazem menção de querer ir embora, não sem antes comer uma típica comida goiana, da qual apaixonaram, após serem orientados a não mascar o caroço do pequi.

Volto para deixá-los na máquina, e bem receoso pergunto o que acharam da cidade como um todo.

- Sabe, eu sempre dei valor a construção de grandes edifícios, de máquinas ultramodernas e invenções que ajudam o povo a viver melhor. Mas hoje estou mudando meu conceito. Acho que prefiro a simplicidade de um povo acolhedor, as belezas naturais iguais a que vocês tem sobrando aqui. Notei muita coisa ruim, fruto de irresponsabilidade principalmente das autoridades de vocês, mas o que tem de mais valor aqui é a identidade de vocês. Não percam esse jeito acolhedor e simples! Diz o doutor aplaudindo.

Já constrangido, olho para McFly e vejo novamente ele chorando.

- Cara, nunca imaginei que depois de tantos anos vocês iam conservar coisas tão bonitas mesmo com tanta maldade no mundo. O doutor tem razão, continuem assim! O maior tesouro de vocês está naquilo que receberam na natureza e no que são.

Me despedi dos novos amigos e caminho para casa com um turbilhão de coisas no pensamento. Mas as últimas palavras deles reverberaram muitas vezes. Que bom viver em 2015 e não perder valores que valem muito mais que qualquer coisa que o homem possa fazer!

terça-feira, 19 de maio de 2015

Memórias de um ex-torcedor


O futebol brasileiro surpreendeu o planeta em 58 com um jovem de 17 anos que virou o melhor do mundo, logo depois em 62 um "anjo de pernas tortas" deixava os adversários com torcicolo, a constelação de 70 sacramentou uma hegemonia e um grito além da ditadura militar, a experiência de craques em 94 como um baixinho que fazia gol de cabeça entre dois zagueiros gigantes ou um fenômeno que teve uma recuperação pós-cirúrgica extraordinária e decidiu o penta em 2002.

Memórias de um passado que vai se tornando cada vez mais distante e não conquista uma nova geração de torcedores apaixonados, que durmam abraçados com uma bola e vão ao estádio em família acompanhar a seleção brasileira ou o time de coração. A Copa do Mundo que idealizada conquistas mágicas agora faz parte de um pesadelo que a maioria dos brasileiros depois de 2014 quer esquecer.

Que a Confederação Brasileira de Futebol é a entidade privada que mais lucra no país todos sabem, que fizeram lobby pra abafar a CPI da Nike em 2001 também, que sempre foi comandada pelo quarteto João Havelange, Ricardo Teixeira, José Maria Marín e Marco Polo Del Nero idem. 

Além da noticia de uma terceirização do futebol da Seleção Brasileira para outra empresa privada explorar de todas as formas possíveis e inimagináveis, da bilheteria à escalação do time em amistosos, tudo passar por eles, e assim engordam o bolso de todos, às custas claro, do torcedor. Agora sete poderosos da cartolagem brasileira, incluindo Marin, foram presos na Suíça pelo FBI. As acusações são de uma interminável lista.

Os que muitos desconfiavam mas poucos viam vai sendo aberto, o cerne da podridão das negociatas por trás da amarelinha entrar em campo. Não bastam negociar partidas ou campeonatos, como o muito mal explicado Mundial de 98, é preciso também operar para usufruir de todas as possibilidades de lucro para a cartolagem se deliciar com o dinheiro, poder e o que mais o circo armado permitir.

Torcer para a seleção brasileira hoje é alimentar espetáculos caça-níqueis, de jogadores que ignoram as raízes e se dedicam a uma bem sucedida carreira européia. Mais nem tão cumplices quanto os dirigentes e empresários que se esbaldam em cima de nós e contam com conivência da maior emissora de TV do país monopolizando a transmissão e repassando migalhas para concorrência. 

Torcer para o clube do coração ainda gera uma identificação, a proximidade que nunca uma seleção comandada por poucos vai trazer. Meninos hoje em dia preferem ganhar muitas coisas a ter um uniforme oficial ou uma bola para sonharem ser um novo Pelé. 

O processo de esfriamento da relação entre seleção e torcedor alcançou patamares nunca vistos. As consequências serão visíveis em poucos anos. Aos mais velhos, restará a nostalgia, a flâmula na parede, o pôster do Penta, o suspiro... Lembranças de quando tinham para quem torcer representando o Brasil.

domingo, 26 de abril de 2015

Reduzir a maioridade é reduzir oportunidades

 
O tema da vez é o projeto de redução da maioridade penal, conhecido como PL 171. Existem muitos argumentos prós e contras, enaltecer os principais é chover no molhado. Penso que o debate é mais profundo.

Fico pensando na mente de um garoto de 16 anos. Ele já pertence a uma sociedade de grande imoralidade, que falta com a ética, é corrupta e criminosa. Escola do crime ele pode ter em casa, na sua rua, na escola ou em qualquer grupo social que freqüente. O que ele tem a perder pagando por um crime nessa fase da vida? Muito!
 
Com esses parâmetros aqui fora, o que sobra para aprender em cárcere privado? Sobra fazer uma pós-graduação do crime, uma anulação de anos cruciais para o desenvolvimento de sua maturidade e formação como cidadão sendo jogada fora e antecipando o aprendizado das maiores formas de continuar a fazer o que não presta. 
 
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) tem um texto belíssimo e assegura direitos invioláveis para nossa juventude. Ele precisa ser defendido, e claro, aplicado. A aprovação desse PL é um retrocesso e um lavar de mãos perigoso  para como esses jovens.
 
Longe de querer ser Rousseau, creio que a repreensão de delitos para essa faixa etária também se faz necessária, porém, o tempo é de fazer medidas socioeducativas e incentivar sua formação continuar, e não ser interrompida. 
 
Passar a mão na cabeça  não pode ajudar de fato o cidadão a melhorar. Mas punir uma pessoa em um momento que sua educação é crucial pode ser jogá-lo em um caminho sem volta. Educação precisa ser prioridade, muito além de discursos políticos. 
 
Sou contra a redução para não só remediar, mas para se atuar com contundência na prevenção. Temos a oportunidade de formar uma nova geração que tenha base acadêmica e neutralize o avanço criminal. Não obstante o Código Penal brasileiro ser da década de 40, a verdadeira justiça é dar a cada um o que é seu. Aos jovens, seja dada a formação do saber.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Arte


 

A arte ultrapassa os limites da percepção, ela vai além de um simples conceito;

Ela une um criador com uma criação, trás o novo, mas com velhos elementos;

Tudo o que se está em volta vira arte, depende de o autor dar um jeito;

Compreende o que vê, examina o que sente, e materializa os sentimentos.

 

A arte é um traço, se o pincel continuar, de muitos traços vira uma nova forma;

Ela se esmera para abrir horizontes, espera-se uma novidade incrível;

Para quem de fato a aprecia, se torna seu intérprete que dela se informa;

Encontra-se uma relação efêmera, mas que trará um ensino tangível.

 

As ideias transbordam no chão, basta-se buscar uma direção;

Entre pinturas, músicas, cenas, danças, esculturas e algo mais;

Respeita-se um novo ser nascendo, fruto de uma empenhada ação.

 

De todos os artistas, um fez mais que muito, o autor do estudo;

Entre todas as formas, matérias-primas do que se faz arte;

Ele criou a vida, o universo, a natureza e o que mais existe em tudo.

 

domingo, 5 de abril de 2015

O maravilhoso dia


 

Era o primeiro dia da semana, parece que tudo voltaria ao que era antes, mas sem o conforto, a esperança e a companhia das mais sábias palavras que já ouviram. Será que tudo fora um sonho? As mulheres, cheias de iniciativas, prepararam seus aromas e estavam levando ao túmulo de Jesus. Qual não foi a surpresa de se depararem com dois homens cheios de luz ao lado de um lugar vazio, sem a pedra que o lacrava e o separava de quem até dois dias antes estava entre eles.

“Por que vocês estão procurando entre os mortos aquele que vive? Ele não está aqui! Ressussitou!” Foi o que os homens as disseram, deixando-as com grande medo. Eles relembraram as próprias palavras de Jesus, que até agora pareciam não fazer sentido. Cristo havia dito mais de uma vez que estava lá para ser entregue na mão de pecadores, morto e que ressuscitaria no terceiro dia. Quem tinha a fé para lembrar e crer nisso?

As primeiras missionárias de Jesus correram pra falar aos outros sobre aquilo que viram e ouviram. Os discípulos de Jesus pareciam não acreditar nas mulheres. Pedro, depois de um processo de restauração e que tanto sofreu na morte de Jesus, correu para se certificar do que elas falaram. Ele viu que era verdade.

Dois outros discípulos iam para outra terra, desconsolados por tudo o que viveram nos últimos anos ter terminado de maneira trágica. Subitamente entra na viagem uma pessoa que parecia não compartilhar as dores. Ela seria o mais desinformado de toda a região? Como não saber de tantas coisas que aconteceram? Mas essa companhia foi se revelando um grande sábio, conhecedor de toda a história do povo de Deus e das escrituras.

Às vezes estamos como aqueles discípulos, ao nosso lado temos a companhia do Mestre dos mestres e nossos olhos estão fechados para Ele. Ouvimos as palavras dEle serem ditas em vários lugares e nosso coração arde com esses ensinamentos. Ele prometeu que nunca nos deixaria só. Ele cumpriu.

Após aparecer a todos os discípulos, até mostrar as marcas de suas mãos ao mais incrédulo, Jesus volta para relembrar de tudo que ensinara, e agora com a promessa sendo cumprida. “Paz seja conosco,” é a bênção do mestre entre nós. Novamente compartilhando o pão, relacionando-se, ensinando, trazendo a paz que excede todo entendimento.

Os dias se passam, multidões o veem. Tudo fica mais claro agora. O testemunho vivo de sua vitória na cruz triunfa contra o pecado. Em seu nome ficou a missão de pregarmos o arrependimento e confissão de pecados. Ele subiu aos céus para estar à direita do Pai. Ele deixou o Consolador entre nós.

O terceiro dia foi um dia de alegria, de vitória, de esperança e confirmação da mensagem da cruz. Sua vida, seu sangue, seu espírito, seu poder e sua glória estão sobre nós. Fomos sarados, filhos da nova aliança. Ele está vivo! Vive em nós! Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra aos homens de boa vontade!

 

sexta-feira, 13 de março de 2015

Muito além das ruas


 
Tomei uma posição sobre os protestos e manifestações desse final de semana. Não é a de ir às ruas nem hoje, nem amanhã, nem domingo. Não é também a de cruzar os braços e achar que está tudo perdido. É um caminho de contramão, o de repensar meu exercício de cidadania, de querer fazer ações práticas que de fato aponte um caminho e mudança de paradigma na nossa vida social.

Sim, as manifestações populares são legítimas, garantidas pela Constituição Federal  e são um instrumento importante de posicionamento popular frente a questões inerentes ao nosso cotidiano. Mas será que só isso basta?

2013 ficou marcado por acontecerem em junho diversas manifestações em todo país. O estopim foi um aumento de passagem de transporte coletivo. Mas diversas bandeiras tomaram o corpo e reivindicaram suas melhorias. Foi lindo ver tanta gente na rua, as redes sociais sendo instrumento poderoso de divulgação, mas a herança disso não foi proveitosa.

Um buraco se formou no espaço de um ano entre as manifestações e as Eleições de 2014. O continuísmo da vitória de quem foi representado tanto por situação como por oposição em vários estados e na presidência foi um diagnóstico de que o efeito de todo barulho chegou só como um sussurro no momento fundamental. 

O que faltou pra esse grito se propagar por mais tempo? O que mudou na participação cidadã de quem foi às ruas ao longo do ano? Não foi muita coisa!

Não adianta ir para a rua e continuar ignorando a ética com o "jeitinho brasileiro", não adianta ir para ruas e se conformar com atos de corrupção que fazemos sem pensar no agravo, não adianta ir para as ruas e furar o sinal enquanto não tá vindo carro na hora, não adianta ir pra rua e usar carteirinha falsa para ter meia entrada, não adianta ir pra rua e sonegar impostos. Que moral eu tenho de cobrar de alguém uma postura que eu não tenho?

O agravo dos nossos erros são bastante relativizados na nossa sociedade. Se tenho uma atitude que parece que não vai prejudicar ninguém em meu beneficio, mas sei que foge do que é plenamente legal, passo por cima, mas não tolero quem faz o mesmo em uma proporção maior que parece prejudicar mais gente. A diferença é a perspectiva do prejuízo, mas o agravo existe da mesma maneira.

Algumas perguntas que venho me fazendo: Me perguntei qual a última vez que mandei um e-mail ou fiz outro contato com um governante ou parlamentar pra cobrar ou reivindicar algo, qual a última vez que pesquisei suas promessas e cobrei a realização das mesmas, qual a última vez que olhei os sites oficiais pra acompanhar projetos e matérias votadas que vão afetar meu dia dia? Qual a última denúncia passei para a imprensa dar visibilidade e provocar mudanças? Ir pra rua é melhor que fazer essas coisas?

Nossa democracia é bastante imatura, falta muito para sermos participativos ao ponto de dar o exemplo e inibir os que se corrompem. Mas a esperança existe, a construção de uma nova geração engajada é possível. Mas será impossível mudarmos algo se a nos participação for só na rua. Quem vai pra  rua, o mínimo de coerência que se espera é fazer o dever de casa!


terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

O Carnaval e a imprudência

Esse texto abaixo está no site do Projeto AQUA, uma plataforma de comunicação que visa divulgar iniciativas sociais do terceiro setor em Goiânia e região. 



Muito dizem que o Brasil só “decola” no ano depois do carnaval. Em ano de Copa do Mundo e Eleições, como ano passado, a prevaricação é maior. Mesmo se visualizando algumas mudanças de mentalidade, a festa popular (muito mais elitizada), continua firme e forte.

No setor da saúde pública e privada, a realidade passa longe da alegria prometida pela mídia aos dias de festa. Tiago Flecha, funcionário de um Banco de Sangue da capital, diz que  enquanto a expectativa de muitos é de muita bebida, sexo fácil, noitadas, o clima em seu trabalho para o carnaval é de outra expectativa: “Nós temos expectativa de muita gente ferida e muita correria na busca por bolsas de sangue, dentre outras situações desagradáveis.”, afirma.

Carnaval representa também uma concentração de contaminações de toda espécie, de higiênicas a DSTs. O Ministério da Saúde distribui milhares de camisinhas para a “diversão” dos foliões. Que ironia pensar em uma enxurrada de proteção acompanhada de um empurrão para a promiscuidade! É incrível o número de adolescentes que engravidam durante esse período, e, principalmente, o aumento de doenças sexualmente transmissíveis.

O governo dá incentivos para o carnaval acontecer, as prefeituras patrocinam para que sua cidade esteja em destaque na mídia e atraia muitos foliões para movimentar a economia local. O abadá dos blocos especiais tem um preço restritíssimo, tem gente que parcela o ano inteiro para conseguir pular por quatro dias dentro de corrente dos abonados, e de preferência, trocar cuspes com quantas bocas conseguir.

Mas a fonte monetária do carnaval não é de total transparência, muitos meios ilícitos correm para bancar a festa do rei Momo: Tráfico de drogas, contrabando, alienação de bens. Já ouvi isso de gente que trabalha lá dentro. Isso não vai para a manchete dos jornais ao lado das fotos das Escolas de Samba vencedores, mas é só virar a página para se deparar com fotos de diversos acidentes automobilísticos, mortes, internações… Onde está a festa?

Os Bancos de Sangue, como o que Tiago trabalha, recebem grande demanda para bolsas de sangue nesse período. Essa semana não deixe de doar! Mesmo que os motivos sejam o excesso e a imprudência, seja de vítimas ou culpados, a necessidade aumenta bastante!

Fonte: Projeto AQUA

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O calor, o valor e o horror


 
2015 começou quente, mais quente pra evaporar nosso dinheiro que no clima. O pacote de aumentos de impostos colocados pelo governo federal pegaram o já minguado bolso do brasileiro de surpresa. Mês de janeiro de tantos gastos com a chance de passear, a compra de material escolar, dentre tantas coisas e de presente de ano novo recebemos reajustes exorbitantes na já onerosa carga tributária.

O clima de instabilidade no país vem se arrastando por todo o conturbado ano de 2014. A Copa do Mundo de Futebol trouxe a festança que se esperava, o mundo todo com os olhos para nós, com as obras superfaturadas e sendo entregues a toque de caixa e o circo armado para o Brasil concluir com chave de ouro em campo. Os 7x1 para a Alemanha mostrou o tamanho da vergonha que o povo brasileiro reflete com tanta corrupção em todos os setores da sociedade.

As eleições vieram com as figurinhas repetidas de sempre. A morte trágica de Eduardo Campos parece que minaram uma ponta de esperança de alguma renovação. Veio a reeleição da presidente, contra seu oponente que carregava toda uma oligarquia e nenhuma novidade. As políticas sociais e os 12 anos de poder foram o suficiente para garantir mais 4 anos para o PT.

A conta sempre chega depois da festa. A que o Brasil (o brasileiro) está pagando agora é muito cara. Vemos um anúncio de enxugamento enorme, cujo desconto só pode ser debitado no bolso do contribuinte. O mesmo que não vê benefícios retornando para ele. O mesmo que não tem saúde pública de qualidade, educação como prioridade, segurança garantida, etc.

Em meio ao caos da administração pública, em todo o mundo temos as expressões de “protesto” extrapolando limites. Charlie Hebdo quer liberdade de expressão mas não respeita quem se expressa sem atacar. As consequências são as piores. Sangue inocente sendo derramado. Se dois povos não falam a língua um do outro, não é uma ilustração ácida que vai ajudar isso a melhorar.

Na Indonésia um brasileiro é condenado por tráfico de drogas. Nenhum pedido diplomático poupou a vida dele. Aqui no Brasil, se pego, ele estaria jogado em uma unidade do sistema carcerário, em uma cela minúscula com bem mais detentos que sua capacidade. Em qual lugar sua vida seria menos valorizada?

Vivemos com medo. Medo de perder o emprego, medo de aumentar os impostos e termos que cortar até despesas prioritárias, medo de não termos o Artigo 5 da Constituição Federal respeitado. Se formos mais longe, até medo de expressar nossa fé. Não faltam motivos para ter medo. Sobram motivos para não ter paz.

Nossa esperança definitivamente não pode estar em homens. Somos corruptos por natureza, e, uma vez no poder, nós somos usurpadores. É preciso outra perspectiva para enfrentar tanto revés. A mesma fé perseguida por alguns é uma esperança. Deus nos criou e nos colocou como mordomos desse mundo. Se não cuidamos dele, sofremos as consequências. Doa o tanto que doer.